Sonoridades da história

quinta-feira, 10 de junho de 2010


Fonte: JC e-mail 4027, de 09 de Junho de 2010.   (GEHB)

Sonoridades da história
 
Livro analisa relação entre história e música no Brasil e destaca como as múltiplas influências contribuíram para a construção dos gêneros e gostos musicais

Na década de 1920, jornais e revistas de São Paulo começaram a registrar um espetáculo curioso: pessoas se aglomeravam diariamente em frente às lojas de discos para ouvir os lançamentos da época, que incluíam tango, maxixe, marchinhas ou sambas, em gravações de artistas como Francisco Alves, Gastão Formenti, Stefana de Macedo ou Vicente Celestino.

Os mais abastados também se reuniam em cafés e outros lugares públicos, principalmente no centro comercial da cidade. A prática da escuta coletiva permaneceu mesmo após a proibição da Câmara Municipal, com o argumento de que o alto volume das vitrolas perturbava o sossego de comerciantes.

O episódio está registrado em um dos capítulos do livro História e Música no Brasil, organizado por José Geraldo Vinci de Moraes e Elias Thomé Saliba, que acaba de ser lançado. A obra reúne nove capítulos de pesquisadores ligados ao grupo Entre a Memória e a História da Música, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), criado em 2004.

O livro, que é acompanhado de CD, analisa fragmentos da história musical do país desde a chamada música colonial, passando pela chegada da família real em 1808, que imprimiu nova dinâmica cultural ao país, até o surgimento da indústria fonográfica nas três primeiras décadas do século 20. Destaca também artistas que marcaram a história da música popular brasileira, como Nazareth e Pixinguinha. A obra recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) na modalidade Auxílio à Pesquisa - Publicações.

De acordo com Vinci, professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da USP, apesar de estar organizada de forma cronológica, a publicação não busca linearidade ou "sentido para o tempo histórico".

"O livro procura mostrar que a história da música no Brasil faz parte de uma construção múltipla. Não é apenas uma trajetória exclusiva e obsessiva da música nacional nem uma herança dada e muito menos exclusivamente afro-americana com relação às tradições populares. De outro lado, a obra evita fazer uma historiografia da música no Brasil baseada na dinâmica linear dos gêneros musicais ou nos autores", disse à Agência Fapesp.

Uma das dificuldades do estudo realizado pelo grupo - que se centra sobretudo na música popular urbana - tem a ver também com as fontes de pesquisa. Os registros mais organizados são encontrados na imprensa ou são frutos de programas radiofônicos. É o caso de Almirante, cantor e radialista carioca que reuniu nas décadas de 1940 e 1950 um acervo fonográfico e bibliográfico que se tornou a base inicial do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, fundado por Carlos Lacerda (1914-1977), jornalista e político brasileiro, ex-governador e membro da União Democrática Nacional (UDN).

"A pesquisa pretende discutir como se constrói uma narrativa historiográfica. A música também é o que as pessoas dizem sobre ela e como elas compreenderão depois o que foi dito, como a música popular, por exemplo. Como se chega a essa música, que não foi registrada em partitura nem em disco? Somente por meio do que foi dito", disse Moraes.

Ele escreveu o capítulo Entre a memória e a história da música popular, resultado do projeto com mesmo título e que recebeu apoio da Fapesp por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular. A pesquisa de Moraes - e também do grupo que é coordenado por ele - resultou na construção do site Memória da Música.

O projeto também teve apoio da Fapesp na forma de Bolsas de Iniciação Científica para coleta de dados e já abriga quase 400 registros de trabalhos publicados por historiadores e musicólogos, acompanhados também de arquivos sonoros.

"A ideia foi criar um banco de dados para começar a refletir sobre os modos como os historiadores interpretam a música. A partir deste ano, pretendemos iniciar as análises qualitativas dos estudos arquivados no site", disse.

A relação entre história e música ainda é um campo em aberto, segundo o pesquisador. "Existem algumas linhas de análises predominantes que, infelizmente, se tornaram também uma espécie de camisa de força e limitação, que se concentram no estudo da malandragem e da música no Estado Novo (1937-1945), na Bossa Nova e na década 1960 com os festivais. A maior parte das pesquisas ainda prefere abordar essas três linhas", afirmou.

Construção do gosto brasileiro

O principal objetivo do livro, de acordo com o professor da USP, foi entender a história cultural da música. No capítulo "Música na América Portuguesa", Paulo Castagna, do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), analisa a chamada música colonial, que marcou os três primeiros séculos após o Descobrimento, mas que é contestada pelo autor, que prefere utilizar o termo "música na América portuguesa".

"O texto de Castagna identifica as diferentes experiências e práticas musicais que ocorreram no país, sem criar fortes hierarquias entre a música erudita e popular. Ele analisa tanto a música religiosa e profana trazida pelos colonizadores europeus como também aborda as práticas dos indígenas e negros", disse Moraes.

Um marco para a história da música brasileira se deu com a vinda da corte de D. João VI, em 1808, que é analisada no capítulo "Aspectos da Música no Brasil na primeira metade do século XIX". É nessa fase que se inicia um processo de "construção do gosto" musical específico no Brasil.

A chegada da Corte imprimiu nova dinâmica sociocultural ao Rio de Janeiro, com a entrada em cena de compositores, copistas e intérpretes como, por exemplo, os castrati, cantores representantes da escola italiana de canto setecentista cuja extensão vocal corresponde à das vozes femininas.

De acordo com Vinci, o momento seguinte - segunda metade do século 19 - inicia um interessante processo de hibridização e de misturas múltiplas. "É um período em que o Rio de Janeiro já tinha consolidado intensa vida musical que se manifestava tanto nos teatros fechados e ambientes cortesãos como nos espaços públicos e populares. Ou seja, é o momento em que se começam a decantar os gêneros musicais populares como choro, xote e samba urbano. Muitos deles vieram de influências da música europeia", disse.

De autores como Pixinguinha - que sintetiza essa trajetória de hibridização cultural - ao samba-exaltação no Estado Novo (1937-1945), a obra aborda também a pouco conhecida produção fonográfica paulista na década de 1930 no capítulo "Vitrola paulistana pelos olhos e ouvidos de um basbaque-andarilho", escrito por Camila Koshiba Gonçalves, doutoranda em história social pela USP.

"O artigo de Camila trata da presença do disco no meio da população, da função pública que cria para a difusão da música já que o público não tinha dinheiro nem para comprar o fonógrafo nem as bolachas. Toda essa prática pública foi importante para criar um gosto musical", disse.

A década de 1950 é destacada no capítulo "Na trilha das grandes orquestras. O ABC da cidade moderna. Aviões, Bailes e Cinema", de Francisco Rocha, pesquisador ligado ao grupo. O texto procura compreender as relações entre os signos da cidade moderna (avião, bailes e cinema) com a música popular.

Em cada capítulo do livro, o leitor poderá acompanhar os textos com referências das músicas contidas no CD. "A ideia original era que para cada capítulo tivéssemos dois registros sonoros do que é apresentado e discutido, mas, infelizmente, esbarramos na questão de direitos autorais", disse.

Entre as músicas, há algumas preciosidades sonoras como a gravação de "Batuque", de Henrique Alves de Mesquita, realizada em 1910, do programa do radialista Almirante de 1938 "Quem dá mais" (ou "Leilão do Brasil"), gravada por Noel Rosa em 1932.

Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br
(Alex Sander Alcântara, Agência Fapesp, 9/6)
► Leia mais...

Escola de Altos Estudos aborda economia brasileira em perspectiva histórica


Fonte: JC e-mail 4027, de 09 de Junho de 2010. (GEHB) 

Escola de Altos Estudos aborda economia brasileira em perspectiva histórica
 
A economia brasileira em perspectiva histórica é tema de curso da Escola de Altos Estudos (EAE) para a Cooperação Acadêmica Internacional em Nível de Pós-Graduação Stricto Sensu do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (Ceppac) da Universidade de Brasília (UnB)

O curso será realizado entre 19 e 24 de julho. O convidado é o professor Werner Baer, do Departamento de Economia da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

Voltado para estudantes de pós-graduação de ciências sociais e economia e a funcionários de governos, o curso da Escola de Altos Estudos do Ceppac terá uma etapa de aulas presenciais, que serão realizadas na UnB e uma etapa de aulas a distância, desenvolvidas por meio da plataforma Moodle.

Gratuito, o programa poderá ser aproveitado como uma disciplina de seis créditos, com 44 horas de aulas presenciais e 24 a distância. As atividades presenciais serão transmitidas também ao vivo pela internet.

A avaliação considerará a frequência, com exigência de no mínimo 80% de participação, e um trabalho final. O melhor trabalho integrará a publicação do curso. As inscrições poderão ser feitas no site do Ceppac e as vagas são limitadas.

Ao realizar esse curso, o Ceppac dá continuidade a sua busca constante por promover o debate interdisciplinar entre cientistas de destaque nacional e internacional que tem contribuições relevantes para as ciências sociais no Brasil e na América Latina. A vinda de Werner Baer para ministrar aulas na Escola de Altos Estudos do Ceppac atende ainda aos objetivos do projeto Escola de Altos Estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O professor Werner Baer, PhD em economia pela Universidade de Harvard, trabalha na Universidade de Illinois e é reconhecido internacionalmente por sua contribuição para a compreensão da história econômica brasileira. Suas pesquisas sobre economia internacional possuem foco na América Latina, especialmente no Brasil.
(Assessoria de Imprensa da Capes)
► Leia mais...

Santo Sudário: respostas para perguntas frequentes


Santo Sudário: respostas para perguntas frequentes
A exposição foi concluída dia 23 de maio em Turim
Por Carmen Elena Villa
 
TURIM, segunda-feira, 7 de junho de 2010 (ZENIT.org).- Ao concluir no dia 23 de maio a ostensão do Santo Sudário – que desde 10 de abril recebeu milhões de peregrinos em Turim –, ZENIT responde algumas das perguntas mais frequentes que surgem sobre esse "ícone" impresso com sangue, como disse Bento XVI, ao venerar o manto sagrado a 2 de maio na catedral de Turim.
 
 
Os evangelhos mencionam o Santo Sudário?
 
–Sim, os quatro evangelhos consideram o detalhe do manto que envolveu Jesus em sua morte:

 
"José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo e o colocou num túmulo novo, que mandara escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra na entrada do túmulo e retirou-se." (Mateus 27, 59).
 
"José comprou um lençol de linho, desceu Jesus da cruz, envolveu-o no lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha; depois, rolou uma pedra na entrada do túmulo" (Marcos 15, 46).
 
"Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado." (Lucas 23, 53).
"Os dois corriam juntos, e o outro discípulo correu mais depressa, chegando primeiro ao túmulo. Inclinando-se, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Simão Pedro, que vinha seguindo, chegou também e entrou no túmulo. Ele observou as faixas de linho no chão, e o pano que tinha coberto a cabeça de Jesus: este pano não estava com as faixas, mas enrolado num lugar à parte." (João 20, 4 - 7). 
 
 
–Quais características tem o lençol?
 
–É um sudário de linho manchado com 4,41 metros de comprimento e 1,13 de largura, tecido com um desenho de espinha de peixe de alta qualidade e pouco comum para a época. Apresenta diversas cicatrizes que foram deixadas pelo tempo como manchas, queimaduras e remendos.

 
–Por que apresenta sinais geométricos?
 
–Pela ocorrência de um incêndio na capela de Chambéry, em 1532. Uma gota de prata caiu em um dos cantos, causando graves danos. Logo foi reparado. Algumas religiosas clarissas o remendaram. Também apresenta manchas de água na parte central, ao que parece causadas pela água com que se apagou o incêndio.

 
–Esse Sudário apresenta a imagem impressa de um homem. Quais são sua características?
 
–É um homem com barba, que jaz morto. Pode ser visto graças a uma impressão e manchas de sangue por meio das feridas sobre o rosto, cabeça, mãos e corpo. Também se vê a parte dorsal do corpo coberta de feridas muito peculiares que atravessam as costas, pernas e descem até a planta do pé. A imagem que aparece é dupla: frontal e dorsal.
Ainda que apresente a imagem deste cadáver, não se registra nenhum resto de decomposição. Portanto, se comprova que foi envolto de um corpo humano durante um breve período, ainda que suficiente para que se imprimisse uma imagem.
 
 
–Apresenta sinais de coroa de espinhos?
 
–Não de uma coroa, mas de um capacete de espinhos. As fotos do Santo Sudário permitem realizar uma "autópsia" teórica, que demonstra que as gotas de sangue dispersas na cabeça derivam claramente de feridas de pontas cravadas em vários pontos. Também são vistas diversas gotas de sangue venoso e arterial que correspondem à complexa rede de veias e artérias da cabeça.
 
A parte cervical aparece fortemente castigada, como se a coroa de espinhos fosse continuamente apertada contra a cabeça. Se o homem do Santo Sudário for Jesus Cristo, pode-se ver que usou a coroa durante o caminho do Calvário e também na cruz, adicionando maior suplício. É importante explicar que nenhuma documentação histórica fala que os homens crucificados foram coroados com espinhos.
 
 
–Apresenta sinais de flagelação? 
 
–Sim. O flagelo usado contra o homem do Santo Sudário era dilacerante e contundante, entrava na pele; Mel Gibson se baseou em estudos do Santo Sudário para a cena da flagelação de Cristo no filme "A Paixão". Os estudos demonstram que, como mostra o filme, cada golpe desgarrava a pele, provocando sangramento. Os chicotes apresentam três pontas terminadas em duas bolas metálicas. Este tipo de flagelo foi encontrado em escavações arqueológicas, sobretudo nas catacumbas romanas.
 
O número de golpes recebidos, segundo os estudos do Santo Sudário, foram cerca de 120, sem contar os que não foram possíveis de ser estudados por conta do incêndio de 1532. Cada golpe gera um impacto de 8 centímetros quadrados e o volume contundido de 12 centímetros cúbicos.
 
 
–Por que se considera que o homem do Santo Sudário esteve crucificado?
 
–Porque há sinais de pregos nas munhecas, não nas mãos, como diz a tradição, que Jesus foi crucificado, com pregos nos tornozelos, não nos pés.
 
Antigamente os crucificados eram atados à cruz por meio de cordas e com pregos. Também há sinais de uma lança que atravessou sua costela, a que se refere o evangelho de João.
 
O homem do Santo Sudário carregou uma madeira horizontal da cruz atada nos braços, como também mostra o filme "A Paixão de Cristo". Com o toque da corda em seu corpo se abriram novamente as feridas da flagelação. No homem do Santo Sudário estas feridas podem ser vistas na escápula, antebraço e ombro direito.
 
 
–Por que são tão famosos os negativos dessa imagem?
 
–O fotógrafo Secondo Pia foi o primeiro a fotografá-lo em 1898. Ao revelar o negativo se deu conta que a imagem mostrava o rosto e o corpo do homem do Santo Sudário no positivo, o que indica que o rosto do homem foi gravado naquele Sudário em imagem negativa. Posteriormente foram feitas mais fotos e a impressão da imagem saiu com melhor qualidade e o negativo oferecia um contraste natural e uma nitidez impressionante. Poder-se-ia dizer que a impressão do Santo Sudário é como um negativo que se converte em positivo.

 
–É certo que o Santo Sudário tem características tridimensionais?
 
–Sim. Em 1976 os físicos John Jackson e Eric Jumper, com Kenneth Stevenson, Giles Charter e Peter Schmacher, estudaram a fotografia do Sudário com um programa especial chamado "Interpretation Systems VP-8 Image Analyzer", nos laboratórios de Sandia Scientific Laboratories, em Albuquerque, Novo México. O resultado mostrava que a fotografia tinha uma dimensão "codificada", com profundidade, diferente de qualquer outro desenho ou pintura que pudesse ser submetido ao analisador de imagens.
Por isso, medindo a intensidade deste colorido, pode-se perfeitamente calcular e reproduzir, como numa estátua, o relevo do corpo envolto por esta "tela".
Este resultado do VP8 não foi obtido nunca com nenhuma outra imagem artística.
 
 
–Como o Sudário chegou a Turim?
 
–Segundo fontes mais tardias, um sudário com o retrato de Jesus foi levado para Jerusalém e Edesa (atual Urfa, ao leste da Turquia), onde foi utilizado segundo uma tradição para apresentá-lo a Abgaro V, rei de Edesa (reinou de 13-50), convertendo-se ao cristianismo. Mas depois que seu filho voltou ao paganismo foram perdidas as pistas deste lençol.
 
No ano de 525 Edesa sofreu uma inundação. Durante sua reconstrução apareceu um sudário com a imagem de Jesus. Imediatamente foi reconhecido como o Sudário que cinco séculos antes foi trazido de Jerusalém ao rei Abgaro. A imagem de Jesus é descrita como "não feita por mãos humanas".
 
No ano de 943, o Sudário foi levado a Constantinopla, onde foi recebido festivamente pelos fiéis. Durante o saque de Constantinopla, em 1294, segundo o testemunho de Robert de Clary, o Sudário desaparece: "Nem grego nem francês sabe para onde foi o Sudário quando a cidade foi tomada", diz.
 
A documentação histórica voltou a falar do Santo Sudário em 1355, sob a propriedade do cavaleiro Godofredo I de Charny. Ao morrer, o Santo Sudário foi herdado por sua irmã Margarita, que não teve descendência. Em 1418, foi levado a Lirey, um pequeno povoado ao norte da França, para protegê-lo das guerras com a Inglaterra.
 
Margarita, em 1453, entrega o Santo Sudário aos Duques de Savóia. Em 1502, é inagurada a Sainte Chapelle, em Chambéry, para custodiar o Santo Sudário. Em 1532 houve um incêndio nessa capela. Em 1535, o Santo Sudário viajou por Turim, Milão, Vercelli e Niza, devido à invasão das tropas francesas em Chambery. Em 1578, chegou a Turim para ficar. Mas só em 1706 foi transportado por um tempo a Genova. Também entre 1938 e 1953 foi transportada à abadia Beneditina de Montevergine, para protegê-lo dos possíveis ataques durante a Segunda Guerra Mundial. Logo regressou à catedral São João Batista de Turim, onde está atualmente.
 
 
–De quem é o Santo Sudário?
 
–Desde 1983 é propriedade da Igreja Católica, pois após a morte do rei Humberto II de Savóia foi entregue ao Papa João Paulo II.

 
–De quanto em quanto tempo são realizadas exposições do Santo Sudário?
 
–Não existe uma periodicidade. O manto se expõe em tempos especiais por vontade do Papa. Desde que chegou a Turim, foi exposto em 1737 com motivo do casamento do duque Carlos Manuel III de Savóia. Logo foi exposto novamente em 1868, e em 1898 para celebrar os cinquenta anos da família Savóia como reis da Itália. Em 1931, foi exposto novamente com o casamento do príncipe Humberto de Savóia (logo rei Humberto II). Em 1978 e em 1998, para comemorar o primeiro centenário das fotografias do Santo Sudário. Foi exposto mais uma vez no ano 2000, com motivo do grande Jubileu e agora em 2010 por vontade do Papa Bento XVI.
 

 
-Um estudo em 1988 disse que se tratava de um falso medieval...
 
–É certo. Em 1988 foi extraído um fragmento do Santo Sudário para determinar cientificamente sua origem. Três laboratórios de Carbono 14 da Grã-Bretanha, Suíça e Estados Unidos calcularam que não podia ter mais de oito séculos. Imediatamente os meios de comunicação disseram que se tratava de um falso medieval. O então arcebispo de Turim, cardeal Anastasio Alberto Ballestero, reconheceu diante dos meios de comunicação que a peça não era autêntica.
 
Contudo, muitos cientistas e arqueólogos começaram a suspeitar sobre como alguém, sem que existisse a fotografia, pudesse falsificar no tempo medieval uma imagem com tantos detalhes e que é possível ver tão claramente somente nos negativos das fotos, com tal exatidão anatômica patológica e cultural. Por isso as investigações continuam.
O fragmento do Santo Sudário que foi utilizado para este estudo é muito pequeno. Foi recortado do canto superior que foi remendado e tocado por milhares de pessoas quando as exposições eram feitas sem nenhum tipo de proteção entre os séculos XIV e XIX. Por isso alguns pensam que os resultados desses estudos foram dados porque estavam muito contaminados.
 
 
–Outros dizem que se trata de uma obra de arte.
 
–Impossível. Em 1978, foi realizado um rigoroso exame do corpo, os braços e o tórax onde se comprova que não foi usado nenhum tipo de pigmento para pintar o Santo Sudário. Ao contrário, as fibras simplesmente parecem descoloradas, como ocorre com um jornal quando se expõe à luz do sol. As aparentes manchas de sangue não apresentam nenhum pigmento diferente. Durante a análise se chegou à conclusão de que se trata de sangue real.
 

 
–O que demonstra que este sudário estava em Jerusalém?
 
–Nos estudos realizados, foram encontradas partículas de poeira que incluem grãos de pólen de dois mil anos de idade de uma planta local de Jerusalém. Restos de pólen deste tipo também aparecem em alguns fósseis que foram encontrados no Mar Morto. Graças a outros tipos de grãos de pólen foi demonstrado o percurso que o Santo Sudário fez chegar até Turim.
 
 
–Se sempre foi tão importante o Santo Sudário, existem documentos históricos que se referem a ele?
 
–Sim, muitos. Foquemos em um: há um manuscrito que se chamaCodex Prey. Está datado entre 1192-1195. Tem cinco ilustrações, que representam a crucificação, o declínio da cruz, a unção do corpo de Cristo na sepultura e Cristo ressuscitado.
As ilustrações mostram um lençol em escala real, e com proporções idênticas ao Santo Sudário. O corpo de Jesus aparece completamente desnudo, como no Santo Sudário, algo insólito em um desenho do século XII e na mesma posição em que aparece o Santo Sudário.
 
Algo muito curioso é que o tecido do manto que envolveu Jesus se apresenta no formato de espinha de peixe, muito pouco frequente nessa época. Apesar de que o desenho seja rudimentar, não deixa escapar esse detalhe. O desenho apresenta também os mesmos buracos que se formaram neste Sudário antes do incêndio de 1532.
Fonte: [cristianismoantigo]
► Leia mais...