A Realização da História

sexta-feira, 13 de novembro de 2009


 

A REALIZAÇÃO DA HISTÓRIA

Na base do socialismo está a concepção hegeliana de realização da história que nada mais é do que a promessa de felicidade do gênero humano na história. Todas as crenças ou ideologias de um mundo melhor, do cristianismo ao comunismo, têm algo de prometéico e de redentor.
Eis a definição mais aceita de utopia: é a esperança de que a nossa caminhada possa dar num topos ideal, mesmo que não se possa ver o final do percurso. A realização da história seria diferente de "fim da história". Karl Marx, como bom hegeliano, sabia que o seu comunismo encontrava a história que os homens perseguiam desde a pré-história. Seria a consumação de tudo aquilo que era nobre no ser humano. Obviamente, Marx não chega a falar de nobreza, mas vai pelo trilho da evolução, que atribui ao ser humano algo de divino, mesmo sendo materialista.
Então, a diferença entre Marx e Jesus era que ele escrevia sob um diapasão cientifico, enquanto Jesus falava da realização humana na história na base de uma prosa metafórica, poética e romântica, numa divinização do humano. Hegel tentou trazer tal poêsis para a vida do espirito absoluto, virou figura a utopia de realização da história. Se acompanharmos as cadências itinerantes dessas figuras ao longo do percurso fenomenológico vemos ali uma sinfonia da realização humana, que era a razão hegeliana. Só que a sinfonia virou rapidamente um grande Réquiem
É desta crença na realização ou consumação da história que se trata agora de debater e discutir. Não é exatamente a tese de Francis Fukuyama do "Fim da História" que se deve discutir. Pois a sua tese trata apenas de um fim especifico que era o da guerra fria, as lutas entre as ideologias do comunismo e do capitalismo.
No capitalismo se poderia supor a existência, como fez o Marx, duma linha evolutiva direta para a realização da história. O comunismo seria a passagem obrigatória, uma transição, que hoje mantém uma audiência bastante fraca nos meios das ciências humanas. A história estacionou?
Os socialista atuais acreditam ainda que é possível, através de políticas públicas voltadas aos excluídos, chegar-se ao alvorecer da história. Na socialização da propriedade privada mediante intervenção estatal se vê a estrada que conduz ao socialismo sem a necessidade de derramamento de sangue. A entrada dos excluídos no mercado de consumo o que faz é aumentar o impacto ambiental no planeta e também aqui se vê uma conexão entre o progresso capitalista e a idéia de realização da história do socialismo. Capitalismo e comunismo provaram do mesmo fruto proibido.
O socialismo quer manter ativado a crença na utopia, no reino da história de abundancia e felicidade, de realização humana. Ou acreditamos nisso, ou então acreditamos que não há esse reino e nos contentamos com os conflitos de interesses. É a rotina dos conflitos e não a retumbância da redenção do gênero humano que nos guia hoje.
Na perspectiva liberal já se dá conta de uma critica a concepção hegeliana de realização na história do gênero humano. A realização humana foi testada nos modelos históricos construídos sob a orientação marxista. O comunismo soviético e os outros comunismos que surgiram em seu entorno são modelos falidos. O gênero humano não encontrou nesses ambiente nada que pudesse lembrar as descrições de Marx  em seus tratados  sobre como seria a vida no pós-capitalismo.
Poderá haver um reino numa história futuro em que a felicidade humana seja vivida plenamente?
Sergio Fonseca
Historiador
sbaptistadafonseca@yahoo.com.br


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