Museus brasileiros se esforçam para atrair visitantes

domingo, 18 de julho de 2010


Seção : Arte e Livros - 16/07/2010 14:33
Museus brasileiros se esforçam para atrair visitantes
Especialistas debatem estratégias e tentam resolver problemas desses espaços culturais do país

Nahima Maciel - Correio Braziliense
Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, tem a melhor média de visitação do Brasil


O Brasil recebe cerca de cinco milhões de turistas a cada ano. Se 10% desses visitantes resolvessem procurar os museus das cidades visitadas, provavelmente as instituições não teriam estrutura para atendê-los.
Especialmente se a eles se somarem os poucos visitantes locais. O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, recebe 300 mil visitantes por ano. É a melhor média nacional. No geral, não chega a 10% da população o número de visitantes das instituições museológicas distribuídas pelo país. O índice é menor que o de Portugal, cuja população é quase metade dos 19 milhões da cidade de São Paulo e sua área metropolitana. Os dados pulularam aqui e ali pelas 10 oficinas e 16 sessões de debates espalhadas pelas salas do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, que recebe até amanhã o 4º Fórum Nacional de Museus.

Realizado a cada ano para diagnosticar os problemas da área, trocar experiências e apontar caminhos, o fórum reuniu mais de 1.500 participantes e um time de convidados encarregados de pequenas oficinas sobre temas específicos. Realizado pelo recém-criado Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o evento pretende ser um palco para tratar dos problemas que afetam os museus brasileiros.

Desde a primeira edição, realizada em 2005, o cenário mudou, especialmente no que diz respeito ao fomento. A criação de editais destinados à área e recursos da União, somados, fizeram com que os museus recebessem incentivos de R$ 120 milhões anualmente de 2008 até hoje. No entanto, queixas como acessibilidade, baixos índices de visitação, dificuldades de organização museológica e manutenção de reservas técnicas persistem.

Toda vez que um roubo surpreende um museu brasileiro, a demanda por formação em segurança para profissionais da área aumenta e o tema ganha corpo em
encontros e conferências. Este ano, no entanto, nenhum Picasso ou Matisse foi saqueado dos museus nacionais, embora o quadro Enterro, de Cândido Potrinari, tenha sido roubado na quarta-feira do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco. Mesmo assim, a oficina de segurança do fórum esteve entre as mais vazias do evento. Especialista do Conselho Internacional de Museus (Icom), o francês Alain Raisson, convidado para o curso de segurança, acredita que é uma das maiores preocupações das instituições.

"O problema mais importante é a manutenção dos sistemas de segurança. Isso quando existem, porque nem sempre existem. E, sobretudo no que diz respeito
aos roubos, à formação de pessoal", diz o especialista, que já precisou evacuar toda uma área do Museu do Louvre por conta de um vazamento no sistema de aquecimento. "Só deu certo porque havia planejamento. Tudo estava pronto." A questão também foi discutida no seminário de gestão. "Às vezes as saídas de emergência ficam fechadas", reparou o museólogo Márcio Ferreira Rangel, responsável pela oficina, depois de lembrar um caso de vandalismo durante exposição de Joan Miró no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.

Ganharam em público as palestras destinadas à confecção de projetos e plano museológico. O interesse é um reflexo da Política Nacional de Museus, que estabeleceu um estatuto obrigatório para todos as instituições do governo federal. Entre as obrigatoriedades está a confecção de um plano museológico.
"Se tornou uma exigência que os museus se planejem e estruturem do ponto de vista da gestão para qualificar o serviço que servem à população. Eles têm que estruturar um bom plano para que possam qualificar seus serviços, por isso essa oficina tem grande procura. E eles têm que captar recursos para as atividades", explica José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram. "O estatuto tem um monte de obrigações, mas muitos museus não sabem disso", reclamou Átila Tolentino, especialista do Iphan em gestão de políticas públicas.

Estruturas precárias

No seminário destinado à integração entre turismo e museus o lamento foi para a distância entre as duas áreas. "O brasileiro vai pouco aos museus", constatou André Ângulo, funcionário do Museu da República do Rio de Janeiro e professor em cursos para guias de turismo. As estruturas são precárias, os museus não oferecem serviços básicos como visitas com guias auditivos, banheiros com papel higiênico, voucher ou até mesmo comissão para os guias.

"As coisas não são do outro mundo, não são aparatos tecnológicos de Marte, mas os museus têm que compreender um pouco como é a dinâmica turística para
poder mostrar o que têm. O turismo é ávido por novidades", garante Ângulo.
"Só que os museus não têm legendas em outras línguas e os guias que fazem hoje os receptivos dos grandes centros também não dominam o que tem lá dentro."

No quesito atratividade econômica a situação piora. Segundo Luiz Carlos Prestes Filho, convidado para seminário sobre gestão e financiamento, os museus não fazem parte dos três pilares da economia da cultura. "E isso dificulta as ações do Ibram. Os museus brasileiros não sabem como vender seus produtos e serviços. Temos que olhar para os acervos como ativos econômicos", acredita. Hoje à tarde o evento será marcado pelas discussões dos minifóruns setoriais. Museus de arte, etnológicos, históricos, de ciência, comunitários, de imagem e som e até de bibliotecas fazem reuniões para discutir políticas para a área. O evento também recebeu representantes do Conselho Internacional de Museus (ICOM), que escolheu o Brasil para a conferência de 2013. "É muito importante. Comparo com as Olimpíadas ou a Copa", explica Vera Alencar, diretora dos Museus Castro Maya, no Rio de Janeiro. "Isso quer dizer que a museologia brasileira é respeitada no mundo inteiro e é muito bem estruturada. Ganhamos de Milão e da Rússia."

Problemas na cidade Brasília recebeu o fórum, mas anda mal das pernas para o Ibram. Com o Museu de Arte de Brasília (MAB) fechado e os museus do Índio e Memória Candanga em situação aquém de suas capacidades, resta o Museu da República. Para José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram, a situação da capital é temerária.
"Recebi o pedido para um evento de arquitetura de museu feito pela Secretaria de Cultura. Com o MAB fechado, o Museu do Índio na situação que está e os demais museus ligados à secretaria tudo em situação precária, eles pedem pela lei Rouanet R$ 800 mil para fazer uma evento de arquitetura internacional de museus em Brasília. É um contrasenso. Se há condição de captar R$ 800 mil para um evento que vai durar uma semana, esses mesmos R$ 800 mil abririam pelo menos o MAB e o Museu do Índio em outras condições", diz Nascimento. "Isso em uma cidade que precisa se estruturar para receber a Copa do Mundo. Vamos ver o que esse seminário de arquitetura vai discutir em Brasília com os museus fechados."

Entrevista com José do Nascimento Júnior — diretor do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
Os minicursos Plano museológico e Elaboração de projetos são os mais procurados do fórum. Por que?

Primeiro porque o plano museológico hoje, tendo em vista o Estatuto de museus, se torna uma exigência. Os museus devem se planejar e estruturar do ponto de vista da gestão pera qualificar o serviço que servem à população.
Cada vez mais os museus buscam estruturar um bom plano para que possam qualificar seus serviços, por isso essa oficina tem grande procura. E o de projeto porque, por outro lado, eles têm que captar recursos para as atividades e, como há vários editais do MinC e do Ibram — como Petrobras, BNDES, Caixa — eles buscam se qualificar para que possam, de fato, captar recursos para projetos.

Por que o curso de Segurança de museus está mais vazio?

Exatamente por isso. Toda vez que ocorre um roubo a gente chama atenção para a segurança, mas se a gente olhar no campo museológico essa não é a preocupação principal, ou porque alguns museus já estão reestruturados ou porque têm outras prioridades na área de captação. Não é uma prioridade da gestão. Abrimos o curso e sempre nos perguntam "vocês estão formando gente em segurança?". Estamos, tá aí aberto, mas a procura é pequena. Quando a gente faz pelo país também é pequena, é a menos pedida. A mais pedida é para planos, conservação, projetos e historiografia.

São quatro fóruns. O que mudou desde o primeiro?

No primeiro tivemos uma renovação muito grande. A quantidade jovens é grande As pessoas pensam que estamos falando de sexagenários no fórum. Não. Há uma
quantidade de jovens, de pessoas de movimento popular, tipo a Estrutural, que tem o ponto de memória, e de pessoas de áreas populares que querem ter seu museu de localidade, além de um amadurecimento do setor para reivindicar montar suas pautas para a construção de uma política de museus forte. Os convidados internacionais sempre ficam muito surpresos. E tem a maturidade que hoje o setor tem a partir da criação do Ibram, de saber o que é possível fazer e consolidar uma política nacional.

Entrevista com André Ângulo, museólogo do Museu da República, no Rio de Janeiro, e professor em cursos de turismo Qual a distância entre os museus brasileiros e o turismo?

A maior distância hoje está inserida dentro dos museus no sentido de entender o que é a atividade turística. E no sentido de os museus poderem trabalhar com a questão de voucher, como os grandes pontos turísticos recebem, tipo Pão de Açúcar e Corcovado. Eles tem que entender o tempo e espaço, poder ofertar uma série de serviços dentro dos espaços museológicos como interpretação simultânea em guias auditivos, bons banheiros com papel higiênico. As coisas não são do outro mundo, não são aparatos tecnológicos de Marte, mas essa integração tem, pelo lado dos museus, de compreender um pouco como é a dinâmica turística e poder mostrar o que os museus têm. O turismo é ávido por novidades. E fica por conta do turismo de cobrar dos museus e saber o que podem realizar. Tem também a questão de produtos turísticos afeitos a seus alvos definido.

Por que os 5 milhões de turistas que visitam o Brasil não visitam museus?

Primeiro que os museus também não dizem muito, não se comunicam. Desses cinco milhões de turistas estrangeiros, uma parte parte são de latinos que buscam sol e praia. Se você pegar 1% dá 50 mil, a gente já teria uma super visitação de estrangeiros. Só que aí os museus não têm legendas em outras línguas. E os guias que fazem hoje os receptivos dos grandes centros também não dominam o que tem dentro dos museus. É mais fácil fazer Pão de Açúcar e Corcovado, que comissionam, do que ter um museu que vai ser desafiado. No Museu da República tem uma livraria e eu consegui convencer a mulher da livraria a comissionar os guias. É uma forma de atração. Outros lugares fazem, os museus têm também que mostrar um pouco isso.

E o turista brasileiro, ele visita os museus?

O brasileiro vai pouco aos museus, não chega a 10% da população. A gente tem a sexta maior rede de museus do mundo mas em visitação perde para Portugal,
que tem 10 milhões de pessoas. Tem que ter uma questão tematizada dos museus e uma renovação. Às vezes a pessoa vai uma vez e não volta mais pela falta
de atratividade desses espaços. Museus não são só espaços de exposição, podem ser espaços de várias coisas, de ter uma vida mais integrada à sociedade.

Entrevista com Alain Raisson, membro do Comitê de Segurança de Museus do ICOM, mora no Brasil desde 1997 e trabalhou no MAC de Niterói
Quais os problemas mais importantes no que diz respeito à segurança nos museus brasileiros?

A manutenção dos sistemas de segurança. Quando existem, porque nem sempre existem. E, no que diz respeito aos roubos, a formação de pessoal. Isso em
todos os museus.

O Museu de Arte Moderna de Paris teve quadros de Picasso, Matisse e Modigliani roubados recentemente. Foi uma falha na segurança?

Foi uma falha humana. São ladrões que agem para revender e que têm uma ação rápida, eficaz, de entrar e sair o mais rapidamente. E depois tema a questão do pessoal. O sistema de segurança não estava funcionando e isso foi avisado pela equipe de segurança, mas os responsáveis não ligaram. Deviam ter feito ronda, mas não fizeram, porque com o sistema de segurança funcionando eles não faziam mais ronda.

É um pouco o que aconteceu o Masp?

Sim, exatamente, é perfeitamente comparável.

O que é essencial na formação de pessoal?

Acho fundamental lidar com pessoas que pertencem ao museu e não uma segurança terceirizada. As pessoas que fazem parte do quadro do museu podem ser formadas como guardas, como vigias que saberão eventualmente quem pode cometer um ato de vandalismo ou alguém que vem localizar as obras. Essas pessoas não mudam todo dia, são familiarizadas e têm competência para identificar que tal peça desapareceu ou que o quadro foi tocado ou não está fixado da mesma maneira porque alguém começou a tirar um parafuso, enfim. Uma pessoa terceirizada que vem hoje ao museu, vai amanhã ao banco, não dá.
O Museu da Marinha, por exemplo, entendeu isso e quer apenas gente da casa.

É mais difícil recuperar uma obra roubada na América Latina do que na Europa?

Não, é exatamente a mesma dificuldade. Atualmente, as obras de arte servem como moeda de troca tanto para armas quanto para drogas e as gangues intervém em qualquer lugar, seja na América do Norte, na Europa ou na América Latina. 
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Os Dez Pecados do Professor (universitário)


Os Dez Pecados do Professor (universitário)

1. Fim da aula expositiva original. Há professores universitários se esqueceram que são antes produtores que reprodutores do conhecimento. Professores assim abandonam a aula expositiva em que deveriam apresentar uma tese original e a substituem por seminários dos próprios alunos que, não raro, resultam apenas em forma sofrida de empurrar a aula. Isso não quer dizer que o professor, na graduação, deve dar aula de sua dissertação ou tese e, sim, que ele deve ter um discurso próprio até mesmo sobre o assunto dos cursos básicos. É isso que torna a aula válida e importante, caso contrário o aluno poderia simplesmente dispensar a aula em função do livro. O professor que não tem um discurso original faz o aluno duvidar da utilidade da aula e, então, resta a esse professor segurar o aluno em sala por meio da coerção da caderneta de presença, o que é mais que lamentável.

2. Doutrinarismo.  Há professores que não conseguem distinguir entre o discurso meramente doutrinário e o discurso útil à ampliação do conhecimento do aluno. Em nome da não neutralidade do seu discurso, torna-se incapaz de distinguir entre o discurso com razões explícitas e bem concatenadas e o discurso com denúncias vazias, razões toscas ou nenhuma razão, preenchido por frases dogmáticas. O doutrinarismo, de qualquer tipo, é o começo do fim do ensino superior. Onde ele impera, a universidade acaba.

3. Excesso de avaliação. Há professores que não ensinam, apenas avaliam. Seus cursos são, na verdade, um conjunto de provas ou, então, um excesso de informações que só ganham significado pela existência da prova. Trata-se não de um curso para a aprendizagem e, sim, de um curso para se esmerar na "arte de fazer exames". É interessante que quanto mais avalia, esse professor menos se avalia.

4. Burocratismo e avalanche de atividades. Há professores que tudo que tocam transformam em burocracia. Exigem a presença na aula, mas de modo burocrático. Exigem a entrega de mil e um trabalhos, mas todos eles só servem para fazer o aluno não estudar, não criar, não se desenvolver, pois são meros instrumentos burocráticos para deixar o aluno ocupado. Esse é o tipo do professor que não tem a mínima noção do que é o conhecimento, ele não sabe que o conhecimento é irmão gêmeo do "período de maturação". Excesso de atividades pode antes tirar o aluno do estudo que colocá-lo em uma situação de reflexão e amadurecimento. Em um curso universitário em que a maioria dos professores age assim, o melhor que o aluno tem a fazer é sair e procurar uma universidade melhor.

5. Não problematização. Encontramos professores que expõem tudo de modo liso, como se não existissem problemas a serem resolvidos no âmbito do assunto que ministra. Para esse tipo de professor o conhecimento é um conjunto de enunciados que se sobrepõem, e não uma guerra de teorias e verdades que, não raro, cria mortos e feridos definitivos. Para esse professor, o conhecimento é alguma coisa da ordem do acúmulo e não da maravilha da aventura. No máximo, esses professores colocam questões e perguntas, mas são incapazes de trabalhar com um problema efetivo junto com os alunos. Um curso em que o estudante não se defronta com problemas reais que ele tem de resolver pode ser tudo, menos um curso universitário.

6. Falta de curiosidade. Muitos professores reclamam da falta de curiosidade dos alunos pelo assunto de seu curso quando, na verdade, eles próprios não possuem nenhuma curiosidade por tal assunto. O professor universitário deve expor os problemas da sua disciplina, em especial os problemas que encontraram soluções, ainda que não definitivas, mas também deve tentar mapear para o aluno os problemas que permanecem em aberto. Entre esses últimos, alguns podem, sim, ser abordados em nível de graduação. Muitas vezes, são os casos que podem ser abordados na graduação os mais próximos do cotidiano e que chamam o aluno para várias formas de laboratório, segundo as especificidades de seus cursos. O professor deve ter curiosidade por eles e fomentar tal curiosidade no estudante. Caso não consiga isso, talvez seja interessante verificar se não está na área errada ou mesmo na profissão errada.

7. Opinião cristalizada. Encontramos um tipo de professor que conversa muito e deixa o aluno participar da aula com inúmeras perguntas. Dá a impressão de ser um professor aberto. No entanto, às vezes nada é senão um professor extremamente fechado, pois é incapaz de ver que, em determinado nível, o diálogo só ocorre verdadeiramente se a possibilidade de mudar de opinião se verifica. Ele dialoga muito, mas não oferece razões para o aluno mudar de opinião. Inversamente: quando posto na parede e se pega sem razões para argumentar, ainda assim não muda de opinião. O professor universitário que não muda de opinião não serve para o ensino superior. A universidade só é boa se ela cria sem medo o espaço do erro do aluno e do professor, incentivando-os a mudar de posição ou, ao menos, procurar boas razões para não mudar.

8. Fuga da discussão com os pares. Há professor universitário que nunca consegue conversar com os colegas a respeito do assunto que pesquisa ou trabalha. Conversa de tudo e, sobre assuntos burocráticos da universidade, sabe tudo. Todavia, é incapaz de viver o seu assunto de aula e de pesquisa. Deste professor nenhum colega arranca qualquer opinião sobre conteúdos acadêmicos, embora possa conseguir sua opinião sobre todo o resto. Esse tipo de professor que não se envolve com seus próprios conteúdos que ministra e que, enfim, só é um intelectual em sala de aula, acaba por não ser intelectual em lugar algum. Não tem qualquer condição de se colocar como professor universitário. O professor universitário é um intelectual polemista também e principalmente fora da sala de aula, não só com os alunos, mas com seus pares. Ele escreve e fala cotidianamente sobre seu tema e a relação deste com o que ocorre no mundo. Quando não faz isso, está na profissão errada.

9. Nem scholar, nem erudito. O professor universitário deve ter erudição e, ao mesmo tempo, ser um scholar de determinado autor ou assunto.  Não se pode ser scholar sem ser erudito no campo da cultura geral e não se pode ser um erudito sem ser um scholar. Só o casamento perfeito dessas duas condições garante o que deve ser o professor universitário.

10. Não presença nos corredores. O professor universitário não tem seu único lugar na sala de aula ou em sua sala ou escritório. Seu lugar é, principalmente, na cantina, nos corredores, nos espaços em que os alunos circulam. O professor que recusa o exercício do footing pela universidade para se deixar abordar pelos alunos e socializar suas experiências, atender alunos e criar um "clima" de polêmica e conversação cultural, não pode ser professor universitário. A universidade só é viva se nos corredores e nas cantinas fervilham discussões promovidas pelo erotismo socrático distribuído entre mestres e estudantes, o que os faz se seduzirem mutuamente. Fora disso, a universidades quase que se resume a um prédio morto – talvez um túmulo de cérebros.

Fonte: © 2010  Paulo Ghiraldelli, filósofo, escritor e professor da UFRRJ

Blog: http://ghiraldelli.pro.br

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