Histórias de um pensador de domingo

domingo, 19 de dezembro de 2010


Histórias de um pensador de domingo

Aos 80 anos, Boris Fausto fala de São Paulo, futebol e de sua autobiografia

Fonte: Edison Veiga - O Estado de S.Paulo - 12 de dezembro de 2010 |

Sobre a mesa da confortável sala, a última edição da revista Pesquisa, os jornais Estado e Folha de S. Paulo e um romance da espanhola Elvira Lindo - Algo Más Inesperado Que La Muerte. Nada quebraria a tranquilidade de Boris Fausto anteontem, em sua bela casa - da lavra do arquiteto Sérgio Ferro - no Butantã, onde vive desde 1965. Na véspera, o historiador havia recebido amigos e admiradores para autografar suas Memórias de Um Historiador de Domingo.

Marcio Fernandes/AE
Marcio Fernandes/AE
Intelectual. 'Boris era o melhor aluno da aula de Filosofia. Simplesmente, sabia mais do que o professor'

Aos 80 anos, completados na quarta-feira, um dos maiores historiadores do Brasil consegue traduzir com clareza e bom humor fatos importantes do País, do Estado e da cidade. Não é de estranhar que a recém-lançada autobiografia - praticamente uma continuação de Negócios e Ócios (1997), ganhador do Jabuti - aproveite-se de fatos de sua vida para lançar luz sobre a própria história do Brasil: movimentos de esquerda, ditadura militar, Diretas Já... "De domingo é metáfora. Porque fui um historiador pegando brechas no tempo", explica.

Formado em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, Boris teve carreira dupla. Aos 32 anos, aconselhado pela mulher - a educadora Cynira Stocco Fausto (1931-2010) -, foi cursar História na USP. "Tinha me formado em Direito por exclusão, porque na cabeça da minha família só havia Direito, Engenharia e Medicina. Minha mulher, vendo minha insatisfação intelectual, deu-me a ideia da nova graduação."

O gosto pelas Ciências Humanas vem da adolescência. Por conta dele, trocou o Colégio Mackenzie, onde estudava desde o primário, pelo São Bento. "O Mackenzie estava preocupado apenas em formar engenheiros." No São Bento, primeiro teve de vencer a resistência religiosa. Filho de judeus - a mãe, Eva, nascida na Turquia; o pai, Simon, na região da Transilvânia, hoje Romênia -, precisou convencer os monges a aceitá-lo, sem o batismo católico.

Humanidades. No novo colégio, além da erudição proporcionada pela rica biblioteca, Boris tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos, que depois se tornariam pais do concretismo. "Boris era o melhor aluno da aula de Filosofia. Simplesmente, sabia mais do que o professor", comenta Augusto.

A amizade e o convívio intelectual continuariam no Largo de São Francisco. E nos anos seguintes. "A vida nos levou para caminhos diferentes, ele para a História, eu para a poesia. Mas gosto de acompanhar na TV as suas intervenções nas discussões sobre questões de política nacional e internacional", completa Augusto. "Admiro sempre a lucidez intelectual e a clareza com que a expressa."

Antes da História, Boris se tornaria advogado e procurador do Estado. Depois, como consultor jurídico da USP, cargo que ocupou até a aposentadoria, em 1989, aproximou-se do meio acadêmico. "Aí me convidaram para ser professor na universidade. Fui por dez anos, até me cansar da rotina das aulas."

Paulistano de nascimento e coração, contesta quem diz que seu A Revolução de 30 - História e Historiografia, publicado em 1969, expresse um ponto de vista contrário a São Paulo. "Não desprestigio nosso Estado de forma alguma. Aliás, de vez em quando, até escorrego em uma visão pró-paulista."

Memórias de Um Historiador de Domingo relata outras passagens da vida de Boris, em especial sua militância política. Ou, como ele mesmo prefere, "micromilitância". De passado trotskista, chegou a ser preso por quatro dias, em 1969 - ainda vivenciaria outros entreveros com as forças policiais.

Paixões como cinema e futebol também ocupam espaço na narrativa. Atualmente, admite ter reduzido sua frequência às telonas. "Antes frequentava três vezes por semana. Hoje, não vou mais que duas vezes por mês."

O futebol não perdeu importância - ainda que as idas aos estádios também sejam menos comuns do que os jogos pela TV. Corintiano fanático, viu os dois filhos - o sociólogo Sérgio e o antropólogo Carlos - encantarem-se com o Palmeiras dos anos 1970. "Na época, vieram me pedir para torcer pelo Palmeiras", lembra. "Deixei. Nunca detestei o Palmeiras. Mas vou falar uma coisa politicamente incorreta: eu detesto os "bambis", diz, referindo-se aos são paulinos.

Hoje em dia, costuma sair pouco de casa. Com seus interlocutores, cultiva o bom humor - presente, aliás, nas páginas do livro. "O humor de Boris é um dos fios de nossa amizade, pontuada por conversas e jogos de pôquer", conta o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Os amigos se reúnem para jogar cartas - hobby de Boris desde a época do São Bento - uma vez por semana.

Com a recente viuvez - Cynira, a quem o livro é dedicado "in memoriam", morreu em junho -, a sensação é que a casa ficou grande demais. "Os móveis incham. A gente diminui com a idade", filosofa ele, um gigante que não mede mais de 1,60 metro.


GIRO POR SÃO PAULO


Estádio: "O Pacaembu é o que mais vezes fui na vida. Vi sua construção, quando garoto. Brincava na obra"

Livrarias: "Gosto da Cultura e da Livraria da Vila. Pela qualidade dos atendentes, o arranjo das instalações"

Restaurantes "Prefiro os de comida japonesa, como o Kinoshita, o Shundi e o Sushi Yassu, e os italianos, como o Piselli e o Pomodori"

Cinemas "O melhor cinema é o mais perto de casa. Mas não gosto dos de shopping: salas já vêm sujas de pipoca e não há cultura cinematográfica"

Parque: "Morei na esquina da Paulista com a Haddock Lobo, perto do Parque Trianon. Minha mulher levava os filhos pequenos ali. Bonita recordação"

SP como um todo: "Quem mora em São Paulo há muito tempo, sofreu um terremoto psicológico. Aqui se perdem as referências"

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História Geral da África, da Unesco


Para os interessados no assunto, a História Geral da África, publicada pela UNESCO em 8 volumes, está sendo divulgada em português. Os volumes I, II, III e V já estão disponíveis para download gratuitamente no portal da UNESCO.

Resumo: Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.  Publicada em oito volumes, a edição completa da coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção está publicada também em árabe, inglês e francês, sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. 

Endereço: http://www.unesco.org/pt/brasilia/dynamic-content-single-view/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese/back/20527/cHash/fa3a677a3d/

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Artigo: Vasco é autor da revolução que profissionalizou o futebol


Vasco é autor da revolução que profissionalizou o futebol
 
O estádio lotado no jogo do Vasco contra o Fluminense, em 1923

O Vasco da Gama foi um time que transformou a história do futebol brasileiro. Segundo o historiador João Manuel Casquinha Malaia Santos, a caminhada do clube entre os anos 1915 e 1934 definiu as características do esporte no Brasil. Graças ao Vasco, o mundo do futebol percebeu que conceber o esporte como negócio poderia produzir grandes espetáculos, lotar estádios, gerar renda para os clubes, dar prestígio aos dirigentes e sócios e até abrir meios para que pessoas das camadas menos abastadas do Rio de Janeiro conquistassem relativa e aparente visibilidade. A ascensão do time também significou para os portugueses a reafirmação de sua identidade na sociedade brasileira.

Malaia pesquisou o tema em sua tese Revolução Vascaína: a profissionalização do futebol e inserção sócio-econômica de negros e portugueses na cidade do Rio de Janeiro (1915-1934), realizada pelo Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O estudo foi baseado em análises de documentos dos acervos de times cariocas e europeus, de documentos da Biblioteca Nacional, e da documentação do Arquivo Nacional.

De acordo com o pesquisador, até que o Vasco iniciasse o que ficou conhecido como Revolução Vascaína, o futebol praticado entre os clubes da principal liga do Rio de Janeiro, A Liga Metropolitana de Desportes Terrestres (LMDT), era quase uma exclusividade dos membros da elite carioca. Segundo o pesquisador, "A Revolução Vascaína colaborou para a transformação desse quadro".
"Iniciada pelo português Raul Campos, presidente do clube em 1919, ela foi o conjunto de medidas introduzidas pelo clube que culminaram no desenvolvimento do esporte como profissional no país, transformando o futebol no mais conhecido espetáculo de massa do Brasil."

A pesquisa mostra que os times que faziam parte da LMDT eram formados, em sua maioria, por jogadores brancos, alfabetizados e que exerciam profissão não braçal. Ou seja, representavam os membros das classes mais abastadas da sociedade.

As análises de Malaia revelaram que, contrariando a maré, Raul Campos percebeu que poderia utilizar o talento de homens pobres, oriundos do subúrbio do Rio de Janeiro, aliado a suas necessidades financeiras, para montar uma equipe de jogadores dedicada integralmente aos treinos e aos jogos. O Vasco passou então a contratar essas pessoas, mesmo que por debaixo dos panos, pagando-os para jogar. "O valor do salário era melhor que o pago por um serviço braçal fora dos campos, mesmo que muito baixo em relação ao que o clube começou a ganhar com o sucesso da equipe", revela o historiador.

Em 1922, o time foi campeão da série B da primeira divisão

Os negócios de Campos
No início da presidência de Campos, que Malaia chama de "o verdadeiro business man português", o Vasco ainda não era um dos grandes times do futebol carioca. "Mas a dedicação exclusiva dos jogadores, incentivada pelos salários, os capacitou para produzir os maiores 'shows' que os campos poderiam receber até então. E, além da inegável habilidade diferenciada dos jogadores, os jogos do Vasco começaram a contar com uma torcida cada vez maior", diz o pesquisador. "O povo no campo atraía o povo na arquibancada, e logicamente o Vasco e os outros clubes passaram a perceber isso", completa. "Inclusive, a partir do momento em que o futebol se torna um espetáculo, os casos de violência aumentam, mas existiam desde o início do futebol", afirma.

A ascensão do time formado por negros e pobres preocupou a elite que "achava que o futebol era dela", afirma o autor do estudo. Mesmo com todo o talento evidenciado nos jogos, o clube dos portugueses e suburbanos enfrentou muitas dificuldades para participar tanto da LMDT quanto da mais tarde Associação Metropolitana de Esportes (AMEA), uma liga criada em 1924 praticamente para excluir os jogadores vascaínos do futebol dos grandes clubes. "Os vários episódios com os quais o Vasco se deparou, como a restrição que determinava que sem estádio próprio o time não participava da liga, revelam a montagem da sociedade naquela época. Negros e pobres não tinham o mesmo espaço que os membros da elite tinham na comunidade carioca".

Mas foi a própria lógica capitalista que mudou tal situação. De acordo com o estudo, em 1927, a construção do Estádio do São Januário, considerado na época o maior estádio de futebol da América Latina, mostrou a força do time e tornou seu sucesso ainda mais inegável. "O estádio foi o resultado da mobilidade da comunidade dos sócios, como nunca visto antes na história de um clube. Ele foi totalmente construído com doações dos vascaínos, com os melhores materiais e melhor arquitetura", salienta o pesquisador.

Os jogadores vascaínos celebram a inauguração do São Januário, o maior estádio da América Latina naquela época

Com o estádio próprio, a renda do clube era cada vez maior. Essa situação fez com que, para a principal Liga, ter o Vasco como um dos componentes passasse a ser até uma questão de necessidade. Afinal, como diz o historiador, "a venda de ingressos faz o capital circular no universo dos clubes, e isso é muito do que uma liga deseja". "Os jogos do Vasco eram com certeza os que mais vendiam ingresso", complementa Malaia.

Profissionalizado, mas não valorizado
Apesar da luta pela profissionalização dos jogadores, da popularização dos campos e das arquibancadas, a diretoria e os sócios do clube continuavam elitizados. No período entre o final da República Velha e o início da Era Vargas, os jogadores vascaínos, "verdadeiros artistas, responsáveis pela ascensão do time no Brasil e do futebol brasileiro até mesmo na Europa, não tinham seu espetáculo traduzido em suas contas bancárias", diz o pesquisador.

Segundo Malaia, essa não valorização do jogador do Vasco, assim como aconteceu também em outros clubes, reflete que a inserção do negro, morador do subúrbio, no universo do futebol se limitava aos campos e estava inserida na própria lógica capitalista. "Com a profissionalização, isso ficou mais evidente. O jogador torna-se empregado, e não sócio, abrindo espaço para que a discriminação continuasse mesmo no cotidiano do próprio clube".

Além disso, o pesquisador aponta que diversos episódios revelavam o descuido e desleixo que o clube tinha para com os jogadores, caso esses se machucassem em campo ou tivessem qualquer outro problema de saúde que os impedisse de jogar. Dessa forma, o aumento de ingressos vendidos não significava, para "empregados do clube", melhoria das condições de trabalho, ou mesmo de salário. Malaia conta que essa situação fez surgir, em meados da década de 1930, algumas tentativas de formação de sindicatos, por parte dos jogadores. "Isso não se consolidou porque o Brasil estava mergulhado no contexto da presidência de Getúlio Vargas, com seus sindicatos pelegos, controlados pelo Estado", explica.

A orientação do trabalho foi da professora Esmeralda Moura. A defesa aconteceu no dia 07 de junho de 2010 .

As imagens foram obtidas pelo pesquisador no acervo do Centro de Memórias do C. R. Vasco da Gama, no acervo do Centro de Memória do Fluminense Football Club e na página online da Biblioteca Nacional.

Mais informações: (21) 8116-3664, email jmalaia@gmail.com

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ARTIGO - 110 anos de Gilberto Freyre. A contribuição de Freyre para a historiografia brasileira


110 anos de Gilberto Freyre.
A contribuição de Freyre para a historiografia brasileira


Jocemar Paulo de Lima*
Daniel Luciano Gevehr**



INTRODUÇÃO – Ao completar 110 anos do nascimento de Gilberto Freyre, pretende-se através deste artigo analisar este intelectual do inicio do século passado como um estudioso adiante de seu tempo. Suas teorias, suas abordagens foram bastante reconhecidas em vários países, levando o mesmo a receber diversas vezes o prémio de Honóris Causa em várias universidades europeias e norte-americana. Assim como as relações raciais, a visão positiva do autor sobre a colonização foi interpretada por seus críticos como um esvaziamento do conflito entre colonizador e colonizado. Outros autores, como Sergio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, obra contemporânea à de Freyre, viram na colonização portuguesa seu aspecto violento e predatório. Sendo este, o grande diferencial da ótica sobre as relações servis do Brasil Colônia e Império.
O pernambucano Gilberto Freyre retratou em Casa-grande & senzala as relações sociais e o cenário do Brasil colonial a partir de sua terra natal, sob a influência da antropologia cultural norte-americana, sua formação acadêmica. Estudou as características socioculturais dos povos formadores da sociedade brasileira sob a ótica do relativismo, valorizando a mestiçagem, antes, depreciada e a contribuição do negro, antes ignorada. Através da exteriorização da intimidade da sociedade colonial, revelou o contexto em que foram criados os antagonismos que compõem a ordem social no Brasil de hoje.

METODOLOGIA – Esta pesquisa está centrada na biografia e nas analises histórica, sociológicas e antropológicas que Gilberto Freyre realizou em suas principais obras: Casa-Grande e Senzala, 1933 e Sobrados e Mucambos em 1936. Se Casa-Grande e Senzala, tem como fio condutor o encontro entre culturas na origem da nação, a partir das características gerais da colonização portuguesa e da formação da família brasileira, realçando as influências culturais e o problema da miscigenação, em Sobrados e Mucambos, a narrativa gilbertiana se concentra na decadência do patriarcado rural. Destacamos ainda, nesse segundo volume que Gilberto Freyre focaliza o crescimento do pólo urbano brasileiro, pontuando-o com antíteses culturais, o viés sempre presente em todas as suas descrições da formação da nossa sociedade. De impacto forte nesse outro Brasil do século XIX, o processo modernizador descrito por Freyre é apresentado nas mudanças dos hábitos de vestir, de leitura, de consumo, Assim como em Casa-Grande e Senzala o patriarcalismo é chave explicativa da natureza da nossa formação social, da sua estruturação e mudanças, tal noção também é estratégica em Sobrados e Mucambos. No primeiro livro, a família é a unidade básica da sociologia freyriana, já que as instituições e o Estado português se encontravam distante da empresa colonial
brasileira. Gilberto Freyre, como se sabe, torna esse conceito fundamento da sua explicação de questões tanto sociais como psicológicas que segregam, aproximam e tornam íntima a vida do homem brasileiro.
Em Casa-Grande e Senzala, o autor mostra que o sistema das casas-grandes e senzalas acomodava relações sociais; em Sobrados e Mucambos, ele exibe com clareza as alterações das mesmas casas-grandes que se urbanizam em sobrados com requintes arquitetônicos europeus e passam a expressar novas relações de distanciamento entre ricos e pobres, brancos e gente de cor, casas-grandes e casas pequenas, conferindo grande importância à condição dos homens dentro de seu ambiente de moradia.
RESULTADOS – Parte dos resultados desta pesquisa sobre a contribuição de Gilberto Freyre para a construção da pesquisa histórica do Brasil e as semelhanças entre a Nova História associada aos Annales e a história social, psico-história ou antropologia histórica de Gilberto Freyre; semelhanças que vão desde um interesse pela cultura material (alimentação, vestimenta e habitação) até um interesse pelas mentalidades e pela história da infância, temas que marcaram a publicação de Casa-grande & senzala. Estas semelhanças de abordagem foram reconhecidas tanto por Febvre como por Braudel quando descobriram a obra de Freyre no fim dos anos 30. Podemos destacar nesta breve pesquisa biográfica que Freyre aprendera seu estilo interdisciplinar na Universidade Columbia, um centro do movimento americano da 'nova história' no início do século.
DISCUSSÕES E CONCLUSÕES – Contudo, pretendemos através deste artigo, destacar a grande contribuição de Freyre para a historiografia brasileira. O motivo desta pesquisa deu-se através da comemoração dos 110 anos do nascimento de Gilberto Freyre. Entendemos que já houve a superação da teoria da modernização da formação social brasileira, que fazia de Gilberto Freyre um teórico da "democracia racial", por ele descrever aquele processo de superação da condição do negro em mestiço embranquecido, inserindo-o na estrutura social. A nova valorização do pensamento gilbertiano, intrinsecamente relacionado com o realce conferido ao compartilhamento dos valores burgueses, vem trazendo uma nova apreciação da sua trilogia, dedicada ao estudo sobre a decadência do patriarcado rural e o desenvolvimento do urbano no Brasil. Se lermos Gilberto Freyre de Casa-Grande e Senzala e também de Sobrados e Mucambos, veremos que se trata de dois textos encadeados, mas bastante diferenciados: o primeiro, focalizando a miscigenação e sua relação com o processo de democratização social e o segundo, voltado para o tema da modernização social do Brasil.
Graças á mudanças do olhar marxista, Gilberto Freyre estudioso da Antropologia histórica, está sendo aproximado à história das mentalidades. Esta justamente veio situar-se no ponto de junção entre o indivíduo e o coletivo, o longo tempo e o cotidiano, o inconsciente e o intencional, o estrutural e o conjuntural, o marginal e o geral.
Contudo, este ensaio é uma tentativa de investigar um paralelo que não recebeu a merecida atenção, o paralelo entre a chamada "nova história" pregada e praticada na França a partir da década de 60 e a história que Gilberto Freyre escreveu a partir da década de 30.

*Graduando em História pelas Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT
**Professor do curso de História das Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT. Doutor em História pela Universidade do Vale dos Sinos - UNISINOS.
REFERÊNCIAS
CARDOSO Ayres, M. Bandeira. Carlos Leão e Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Record, 2002, 892 p.
Estudos Sociedade e Agricultura, 18, abril, 2002: 191-196.
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. Rio de Janeiro. Editora Record. 9ª edição. 1996.
___________ Ordem e progresso: processo de desintegração das sociedades patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre, aspectos de um quase meio século de transição do trabalho escravo para o trabalho livre e da monarquia para a república. Lisboa: Livros do Brasil, s.d. 2v.
____________ CASA-GRANDE & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Lisboa: Livros do Brasil, [1957].
____________ Brasis, Brasil e Brasília: sugestões em torno de problemas brasileiros de unidade e diversidade e das relações de alguns deles com problemas gerais de pluralismo étnico e cultural. Lisboa: Livros do Brasil, 1960.
HOLLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Referência ao autor:
110 anos de Gilberto Freyre. contribuição de Freyre para a historiografia brasileira publicado Hoje por Jocemar Paulo de Lima Paulo de Lima em http://www.webartigos.com

 
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