Resistência ao fascismo e nazismo no Brasil

terça-feira, 8 de setembro de 2009


Pesquisas reavaliam resistência no Brasil
 

DOCUMENTOS RECÉM-PUBLICADOS PERMITEM CONHECER GRUPOS ANTIFASCISTAS E ANTINAZISTAS

ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO

A abertura para consulta pública de arquivos do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), em 1994, e do Itamaraty, em 1995, possibilitou a pesquisa em uma frente pouco explorada da historiografia brasileira: a resistência local ao fascismo e ao nazismo. Mas seu peso na política sul-americana está longe de ser consenso.

É ponto pacífico que grupos fascistas gozavam de uma situação privilegiada no Brasil, um país onde a elite admirava a ascensão econômica alemã, onde a classe trabalhadora era facilmente permeável à política populista e onde setores da Igreja Católica apoiavam a direita em ascensão.

O que se investiga agora é se o contraponto ideológico oferecido por movimentos como o Áustria Livre ou o Alemães Livres foi atropelado por um Estado ideologicamente alinhado com os países do Eixo.

Para Maria Luiza Tucci Carneiro, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação, da USP, a sociedade "permitiu a livre circulação da extrema direita por vários canais", enquanto a polícia perseguia comunistas e judeus, identificados sem distinção como "revolucionários", tidos como participantes de um complô.

Desde antes do primeiro governo Getúlio Vargas (1930-45), publicações antissemitas, como as edições dos "Protocolos dos Sábios do Sião", tornavam-se populares, mas foi em meados da década de 30 que periódicos como "A Ordem" e "Vozes de Petrópolis" tiveram atuação mais intensa nas campanhas direitistas.

A extinção de seus partidos políticos, em 1937, não encerrou as atividades dos grupos fascistas brasileiros.

O Proin (Projeto Integrado Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo) trabalha atualmente com documentos, descobertos no ano passado nos arquivos do Deops, em São Paulo, que mostram o tratamento dado aos grupos de reação contra o nazifascismo.

Segundo Carneiro, esse tipo de descoberta está ajudando a "reescrever a história política do Brasil".

Conclui-se, por exemplo, que o apoio brasileiro aos fascismos, embora tivesse participação popular, vingou com maior facilidade porque gozou da liberdade de expressão que o chamado "complô judaico-comunista" não teve.

"De 1930 a 1942 [ano em que o Brasil entra na guerra], não há vigilância de nazistas, fascistas ou integralistas. Eles eram até publicados, os integralistas tinham apoio de intelectuais leigos católicos", lembra a professora da USP.

Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra, a bipolaridade política brasileira atingiu um auge: os documentos mostram o início de uma vigilância sobre alemães e austríacos, mas os investigados pertenciam aos movimentos antinazistas. "Seus membros foram presos, fichados, tratados como "súditos do Eixo'", conta Carneiro (leia mais no texto ao lado).

Autoajuda

Francisco Carlos Teixeira da Silva, professor de história na Universidade Federal do Rio de Janeiro, pondera sobre a importância da resistência ao nazifascismo no Brasil e no mundo.

"Hoje tem sido valorizada a resistência quase como um acerto de contas, para dizer que "havia alemães bons", absolver a população. Políticos alemães valorizam uma resistência que jamais pôs em risco aquele regime para dizerem que são herdeiros dessa tradição. A resistência antinazista e antifascista na Itália e na Alemanha foi irrelevante. A visão de mundo era tão poderosa que a paralisava."

No caso do Brasil, mesmo reconhecendo que grupos antifascistas e antinazistas tenham militado para influenciar a intelectualidade brasileira, Teixeira da Silva conclui: "É muito significativo o suicídio de Stefan Zweig [em 1942] -não havia mais o que fazer".

O professor diz que a resistência antinazista tinha menos a pretensão de reverter a política alemã do que de formar, na prática, "círculos de autoajuda, para não chegar à conclusão de que era o fim e se suicidar, como fizeram Zweig ou Walter Benjamin".

Questionado pela reportagem se tais movimentos puderam reverter o trabalho ideológico dos "fasci" -que alinhava a política brasileira ao Eixo-, determinando a adesão brasileira ao lado dos Aliados, Teixeira da Silva é peremptório.

"A tese de um Brasil oscilante [entre Eixo e Aliados], com Vargas negociando com os dois lados, é insustentável. O Brasil dependia economicamente dos EUA e seria ocupado por eles se entrasse para o Eixo."

Para o especialista, falta à pesquisa brasileira cotejar os documentos nacionais aos arquivos dos EUA e da Alemanha. "Se você vê documentos alemães e dos EUA, é dado como certo que o Brasil está com os Aliados. O máximo que o Eixo pretendia do Brasil era tê-lo como país neutro".

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"Se um homem não sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento saber o que não é." (Jung)

Fabrício Augusto Souza Gomes
fabricio.gomes@gmail.com
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Simpósio Comemorativo do Bicentenário da Tomada de Caiena


  Simpósio Comemorativo do Bicentenário da tomada de Caiena
 

Nos dias 28 e 29 de outubro, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com o apoio do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, promoverão um encontro entre historiadores e especialistas, dedicados ao tema que debaterão o primeiro ato militar da política externa de D. João e
que se constituiu no batismo de fogo do Corpo de Fuzileiros Navais.  Este evento contará com a participação dos seguintes palestrantes: Prof. Dr.
Ciro Flamarion Cardoso, Profª. Drª. Ismênia de Lima Martins, Prof. Drª. Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, Profª. Mª. Nívia Pombo Cirne dos
Santos, Coronel Cláudio Skora Rosty e Capitão-de-Fragata (T) Ronaldo Lopes de Melo.


Inscrições: Enviar e-mail com nome completo para dphdm40@dphdm.mar.mil.br
Os que desejarem Certificado de Participação, que serão conferidos aos presentes nos dois dias do evento, informar também: endereço completo, telefone, profissão e instituição a qual representam.

 

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Imigrantes e inimigos - campos de concentração de alemães, italianos e japoneses no Brasil


Imigrantes e inimigos
 

HISTORIADORA REVELA DETALHES DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DE ALEMÃES, ITALIANOS E JAPONESES NO BRASIL E AS CONSEQUÊNCIAS DO ESTIGMA SOCIAL DEPOIS DA PRISÃO

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 15 anos de pesquisa, a historiadora Priscila Ferreira Perazzo, 41, consegue lançar o resultado de seu estudo sobre um tema pouco abordado pela historiografia do país: os campos de concentração no território brasileiro.

Menos terríveis que os campos de extermínio disseminados pela Alemanha nazista, os espaços são mais numerosos no país entre 1942 e 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, quando o governo Vargas declara inimigo o Eixo. Assim, por extensão, cidadãos nascidos na Alemanha, na Itália e no Japão começam a ser detidos e confinados em espaços especialmente feitos para esse fim.

"Prisioneiros da Guerra - Os Súditos do Eixo nos Campos de Concentração Brasileiros (1942-1945)" (Imprensa Oficial/Humanitas, 384 págs., R$ 35) se beneficiou da abertura gradual de arquivos oficiais e traz mais detalhes sobre os dez campos implementados em diversas condições por quatro regiões brasileiras (apenas o Centro-Oeste não abrigou locais desse tipo).

A análise vai desde os mais conhecidos presídios de Ilha das Flores e de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, até o campo de concentração de Tomé-Açu, no Pará, no meio da selva amazônica, para onde foi levada grande parte dos japoneses detidos no período. Há também o campo em Chã de Estevão, em Paulista (PE), onde alemães viviam reclusos em pequenas casas e tinham o direito de levar a família para essas residências.

"O tratamento dado aos súditos do Eixo, durante a guerra, é variado. Meu livro não pega aqueles imigrantes que foram obrigados, por exemplo, a ficar confinados em suas próprias casas no interior do Paraná e de São Paulo", conta a historiadora, que, pela documentação, acredita que o número de presos desse tipo não passou de 2.000 pessoas.

A definição dos campos vem de obras referenciais de nomes como o da teórica alemã Hannah Arendt (1906-1975) e do sociólogo britânico Anthony Giddens, entre outros. O escopo de "Prisioneiros..." também não se detém em experiências anteriores de espaços do tipo no Brasil, como o de Alagadiço, no Ceará, onde retirantes foram impedidos de entrar em Fortaleza e ficaram confinados em 1915 e, posteriormente, em 1932.

A seguir, trechos da entrevista com Perazzo.

 

FOLHA - Qual é a definição de um campo de concentração?

PRISCILA FERREIRA PERAZZO - Campo de concentração implica um lugar aberto, mas delimitado para ser objeto de vigilância, onde ficam reclusas pessoas que, por algum motivo, devem ser isoladas. É interessante demarcar que o uso de campos de concentração na primeira metade do século 20 foi mais extenso do que se imagina. Em razão de um pensamento comum que vem com o pós-guerra, hoje a gente acha que campo de concentração é só aquilo que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, com os nazistas, especialmente os espaços terríveis criados para o extermínio de pessoas, como Auschwitz. A prática de internar pessoas, civis ou militares, foi relativamente comum. As referências em estudos indicam que campos desse tipo começaram em 1899, na África do Sul, na Guerra dos Boêres, quando os ingleses confinaram os africâneres. Mas há formas de confinamento e segregação mais antigas, como os leprosários no final da Idade Média, entre outras experiências.

FOLHA - No Brasil, quais eram as condições gerais desses campos?

PERAZZO - Tinha de tudo. Chão de Estevão, em Pernambuco, por exemplo, não era prisão, era quase um vilarejo. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os alemães ficavam em presídios, assim como no Rio, em Ilha Grande e Ilha das Flores. Em São Paulo, um deles era uma fazenda.

FOLHA - Havia diferenças no tratamento de cada grupo étnico?

PERAZZO -
Sim, havia. O maior número de presos é de alemães, cerca de 60%. O segundo é de italianos, uns 30%, e o último de japoneses, o restante, que quase só ficaram em Tomé-Açu, no Pará. Mas o tratamento dado aos súditos do Eixo, durante a guerra, é variado.

FOLHA - Quais imigrantes tinham a pior situação?

PERAZZO -
Com certeza, os alemães, que eram levados para os piores campos, os do Sul, que eram presídios, e os do Rio. Os comunistas estavam lá desde 1935, havia presos comuns. Foi reformada uma ala para seguir as recomendações da Convenção de Genebra, porque os prisioneiros de guerra não poderiam ficar no meio dos prisioneiros normais. Os relatos são de que os alemães se incomodavam, eram obrigados a ficar perto de assassinos, ladrões, em lugares mais cheios.

FOLHA - E, quando são libertados, qual é a reação dos brasileiros em relação a esses alemães?

PERAZZO -
A pior possível. A perseguição contra eles é bem maior, em especial no Sul, é mais traumática. Ouvi descendentes que, à época, tinham de 12 a 20 anos e que contaram as muitas humilhações que as famílias sofreram. Eram famílias bem estabelecidas, tinham altos cargos em grandes empresas. Depois da passagem pelos campos, não conseguiam mais os mesmos empregos. As famílias ficaram destruídas, a miséria chegava. Quando voltavam, eram vistos como nazistas. Socialmente, eram estigmatizados. A polarização não veio no meio da Segunda Guerra, mas antes, nos anos 30. Havia a propaganda varguista, de 1938 para a frente, ficou pior. Os alemães sofriam hostilidade, eram chamados para depor na delegacia constantemente, ficavam uma noite detidos, saíam, depois eram pegos novamente. Em janeiro de 1942, começa a sair uma enxurrada de coisas contra eles, um monte de reportagens, jornais detonando os alemães, porque eles são inimigos, associando-os às piores atrocidades nazistas. Os japoneses também sofrem. São vistos como sabotadores, traidores, dissimulados. A recuperação da imagem desse grupo é recente.

FOLHA - É muito diferente de como os italianos são vistos, não?

PERAZZO -
Totalmente. A relação política Brasil-Itália é diferente. A Itália sai da Segunda Guerra muito antes, Mussolini cai em 1943. O governo italiano que assume, provisório, é de cooperação com os Aliados, sai da guerra, não é mais beligerante. Por isso, em 1944 a FEB vai para a Itália lutar contra os nazistas.

A política étnica e nacionalista do governo Vargas tem diretrizes diferentes para cada grupo étnico. Algumas coisas aconteciam para os japoneses, muitas para os alemães e poucas para os italianos. Os italianos sofreram no auge da Segunda Guerra, porque aí eles eram vistos como fascistas.

FOLHA - Mas houve alemães que, ao não serem levados para campos do Sul e do Rio, tiveram melhores condições durante esse período?

PERAZZO -
Sim, os de Chão de Estevão, em Pernambuco. Ao local foram enviados 23 alemães que trabalhavam na Companhia Paulista de Tecidos, da família Lundgren, das Casas Pernambucanas. A Lundgren aponta as 23 pessoas que têm de ser internadas. Esses 23 homens vão para o campo, que é constituído por várias casinhas. Quem tem família leva a sua. Quem não tem, ou seja, os solteiros, ficam numa casinha à parte. E sofrem toda a questão da vigilância. Como eles eram altos funcionários da empresa, especializados, técnicos, que vinham justamente da Alemanha e da Áustria para trabalhar na fábrica, eles faziam uma falta terrível, porque não havia substitutos capacitados. Então, a companhia ia à noite buscá-los de carro, levava-os à fábrica e eles faziam o que podiam, davam uma assistência aos outros funcionários. Se compararmos essa situação aos campos do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, nesses últimos a prisão é bem mais drástica.

FOLHA - Conseguir chegar a essas conclusões foi complicado? Qual é a situação desses arquivos e registros familiares?

PERAZZO -
Hoje é bem mais fácil chegar a esses arquivos oficiais, não que seja simples alcançar todas essas conclusões. Locais como o Arquivo Histórico do Itamaraty e o Arquivo Nacional, ambos no Rio, têm vasta documentação. No entanto, isso não acontece em todos os Estados. No Pará, por exemplo, é muito difícil conseguir documentação oficial. Há pouca coisa dos campos de Tomé-Açu na própria cidade e em Belém, a capital do Estado.

Muitas vezes, temos o problema de não obtermos microfilmes ou xerox, então copiamos à mão páginas e páginas de livros e registros contidos até em latas.

Os registros familiares são complicados. Por exemplo, com a estigmatização dos alemães no pós-guerra, vários imigrantes que passaram por tudo isso queimaram o que tinham. Eles morriam de medo de sofrer represálias, se privaram da língua e de quaisquer outras associações com o nazismo. Levaram para o túmulo muitas informações essenciais sobre esse período.

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"Se um homem não sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento saber o que não é." (Jung)

Fabrício Augusto Souza Gomes
fabricio.gomes@gmail.com   
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Nas graças de Mussolini - O fascismo no Brasil


Nas graças de Mussolini

PESQUISADORES ITALIANOS DEFENDEM QUE, NOS ANOS 30, O FASCISMO TEVE PENETRAÇÃO MAIS FÁCIL E ENCONTROU CONSENSO MAIOR ENTRE IMIGRANTES NO BRASIL DO QUE NA ARGENTINA; O DITADOR COMPARAVA OS DOIS GRUPOS E LAMENTAVA A RESISTÊNCIA NO PAÍS VIZINHO: "NÃO NOS COMPREENDEM NEM NOS AMAM"


Toda a América Latina (particularmente algumas nações, o Brasil em primeiro lugar) recebia uma grande atenção

Popperfoto/Getty Images




O ditador Benito Mussolini (1883-1945) faz a saudação fascista

ADRIANA MARCOLINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM BUENOS AIRES
 

Um livro, ainda inédito no Brasil, sobre a penetração do fascismo nas sociedades latino-americanas indica que a influência dessa ideologia no período entreguerras foi maior no Brasil do que na Argentina, onde a população italiana era proporcionalmente maior.
Para o pesquisador Angelo Trento, autor do capítulo sobre o Brasil no livro "Fascistas en América del Sur", a atitude favorável dos párocos imigrantes, os convites do corpo diplomático e o grande poder de persuasão dos notáveis da comunidade, como os empresários Francesco Matarazzo (1854-1937) e Rodolfo Crespi (1874-1939), contribuíram para construir o apoio maior dos italianos no Brasil ao fascismo, especialmente a partir dos anos 30.
Para a organizadora da coletânea, Eugenia Scarzanella, professora da Universidade de Bolonha, as autoridades italianas em Buenos Aires não souberam aproveitar o potencial que representava a maciça presença de italianos no país (em 1927, quando a Argentina tinha 13 milhões de habitantes, 1,7 milhão eram italianos).
Trento, professor da Universidade de Nápoles, estudioso da imigração italiana no Brasil, revela que Matarazzo e Crespi, os "tios da América", não apoiaram o fascismo apenas com palavras, mas também com generosas contribuições financeiras para organizações do regime na Itália e no Brasil.

 

FOLHA - O fascismo foi um instrumento para a identidade e a integração dos imigrantes italianos na sociedade brasileira?

ANGELO TRENTO - O fascismo foi, certamente, um instrumento de construção (e, para as camadas médias, de fortalecimento) de uma identidade nacional que também envolvia as classes populares, que por muito tempo, depois da unidade da Itália [no século 19], haviam permanecido ligadas a uma dimensão regional, quando não local, expressa por meio de usos, costumes e vários dialetos, segundo a região de nascimento. Com sua agressividade verbal, porém, o governo de Mussolini também estimulou uma atitude de distanciamento em relação à sociedade de acolhimento. Esse sentimento de estranhamento representou a exceção e não a regra, mas não resta dúvida de que a aquisição de uma consciência nacional acabou por identificar a italianidade com o fascismo. Assim, as manifestações dos seguidores de Mussolini em terras brasileiras (como em tantos outros países) se identificaram com hinos, desfiles e a ostentação de camisas pretas, terminando por criar uma fricção com a população local.

FOLHA - A mudança do termo "emigrantes" para "italianos no exterior", ocorrida em 1927, perdura até hoje na linguagem oficial do país. Seria uma forma de ocultar o passado emigratório da Itália?

TRENTO - A utilização do termo "italianos no exterior" no lugar de "emigrantes" se enquadrava no projeto fascista de exaltação da italianidade. Sem dúvida, a operação também escondia a vontade de colocar em segundo plano as causas econômicas e sociais da emigração, mas este não foi o motivo principal. Aliás, o regime promoveu duas ideias: uma emigração qualificada e o fim da emigração popular de massa, o que se enquadrava sob a óptica da política de potência buscada por Roma. A ideia de que o excedente demográfico era uma justificativa da emigração fazia parte dessa política.

FOLHA - Quantos italianos havia no Brasil no final da década de 20?

TRENTO -
Não houve um Censo no Brasil entre 1920 e 1940. No entanto, estimativas confiáveis, como as elaboradas por Giorgio Mortara, judeu italiano que emigrou para o Brasil após as leis raciais do regime fascista em 1938, e um dos pioneiros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que, em 1930, havia 435 mil italianos no país.

FOLHA - Por que a ideologia fascista conseguiu uma penetração maior entre os imigrantes italianos no Brasil do que na Argentina?

TRENTO -
Porque a emigração italiana para o Brasil foi mais tardia em relação àquela que se dirigiu para a Argentina. Como os italianos chegaram antes àquele país, a imigração era marcada pelos ideais do "Risorgimento" [processo de unificação da Itália] e de Giuseppe Mazzini [1805-1872, considerado o apóstolo da unidade do país]. Também tinha um caráter republicano e democrático. Portanto, quando as primeiras associações italianas começam a se formar, os imigrantes que já estavam estabelecidos na Argentina assumiram seu controle e conseguiram manter várias delas fora da órbita fascista. Algumas foram, inclusive, direcionadas em sentido contrário, ou seja, passaram a ser antifascistas. Há muitas razões para a maior penetração do fascismo no Brasil, mas podemos mencionar uma fraqueza maior do antifascismo italiano no Brasil, principalmente nos anos 1930, que se deve, em parte, a um fluxo menor de exilados políticos para o Brasil em comparação à Argentina, principalmente de esquerda e, em particular, de comunistas. Os indícios dessa penetração maior da ideologia estão em uma tomada de posição mais firme por parte dos jornais argentinos e das associações italianas em relação ao fascismo (a imprensa antifascista, ou, de qualquer forma, não alinhada com o regime, teve um impacto e uma circulação menores no Brasil do que na Argentina). No Brasil, em meados dos anos 1930, as associações italianas estavam totalmente a favor do fascismo, por convencimento ou por conveniência. Há ainda a observação do próprio Mussolini, que expressou o seu desapontamento ao então embaixador italiano na Argentina, em 1936: "Os italianos da Argentina não nos compreendem nem nos amam. Se as coisas continuarem assim, vamos nos dirigir cada vez mais aos italianos no Brasil".

FOLHA - O governo de Mussolini queria fazer do Brasil uma "nação fascista" ligada a Roma ou nutria pretensões imperialistas?

TRENTO -
A ideia do fascismo era aproveitar o número significativo de italianos que viviam e trabalhavam em alguns países da América Latina para criar grupos de pressão e uma atmosfera favorável à Itália, sob a forma de simpatias políticas e com fins econômicos e comerciais, posição já presente na classe dirigente italiana a partir do final do século 19. Não havia pretensões imperialistas nem de expansão territorial.

FOLHA - Qual era a imagem que o regime de Mussolini tinha da América do Sul?

TRENTO -
Ao pesquisar a propaganda dos anos 1920 e, sobretudo, dos anos 1930, parece evidente que toda a América Latina (particularmente algumas nações, o Brasil em primeiro lugar) recebia uma grande atenção.
Após 1929, a região passou a ser vista com um grande interesse, uma vez que o regime estava convencido de que o enfraquecimento, em escala mundial, dos postulados democráticos e liberais podia abrir horizontes interessantes para o modelo totalitário italiano.

Roma se apresentou como alternativa à liderança de Washington e de Londres, mas sem se colocar no mesmo patamar e até sublinhando a ausência de qualquer vontade expansionista e de dependência. O aparato teórico dessa manobra se baseava no conceito do panlatinismo, de forte valor simbólico e propagandístico, que englobava a ideia de uma grande família étnica, em contraposição ao pan-americanismo.

FOLHA - Em geral, a historiografia brasileira afirma que a ideologia fascista só encontrou seguidores entre a elite da coletividade italiana, enquanto as classes populares abraçaram o anarquismo. Isso é verdade?

TRENTO -
Foi apenas uma minoria que se empenhou no movimento operário, defendendo posições anárquicas, anarcossindicalistas e socialistas. De qualquer forma, isso aconteceu antes dos anos 1920 (caracterizados no Brasil por uma grande repressão). O fascismo encontrou sem dúvida um vasto consenso entre a coletividade italiana e não apenas entre as classes altas e as camadas médias, mas também entre a pequena burguesia (como na Itália), principalmente comercial, e entre os próprios operários, principalmente nos anos 1930. Vários fatores contribuíram para esse êxito: primeiro, a ausência ou a fraqueza de um componente do "Risorgimento" na emigração que se dirigiu para o Brasil, a qual, ao contrário do que aconteceu na Argentina e no Uruguai, não havia antes dominado o mundo das associações regionais, orientando-o politicamente de forma desfavorável ao regime. Em segundo lugar, influiu uma obra de propaganda mais minuciosa, que se valeu não apenas de bolsas de estudo concedidas aos jovens brasileiros, convites de viagem para jornalistas, projeções de filmes e subsídios a jornais locais que falavam bem do regime, mas também de iniciativas culturais (professores visitantes nas universidades brasileiras) e empreendimentos que atingiam o imaginário coletivo, como as travessias aéreas do Atlântico que tinham como meta o Brasil, realizadas por pilotos italianos entre 1927 e 1931. Em terceiro lugar, o prestígio elevado de que gozava Mussolini com a opinião pública, as classes dirigentes e os governos estrangeiros influenciava principalmente os emigrantes. Enfim, no Brasil, havia, mais que nos outros países de forte imigração italiana na América Latina, um corpo diplomático altamente fascistizante depois de 1925.

FOLHA - Por que o corpo diplomático tinha um caráter mais fascista particularmente no Brasil?

TRENTO -
Durante o fascismo, o corpo diplomático italiano em todo o mundo foi conivente com o regime em vigor ou, pelo menos, não lhe foi hostil, salvo raras exceções. A partir da metade dos anos 1920, foram incorporados principalmente cônsules, mas também embaixadores, que não eram de carreira, que entraram por fidelidade política. No Brasil se registrou, eu diria que por acaso, uma concentração desses diplomatas.

FOLHA - O sr. escreve que, no Brasil, havia muitos imigrantes "convertidos" ao fascismo. Como as autoridades italianas os convertiam?

TRENTO -
As "conversões" aconteciam com várias categorias, mas principalmente com alguns jornais étnicos, que antes eram adversários do "duce" [Mussolini], muitas associações, alguns intelectuais e pessoas que tinham uma atividade de esquerda. Assim como na Itália, alguns militantes do movimento operário adotaram o fascismo em virtude do seu antiparlamentarismo e anti-individualismo iniciais, e da ilusão de um futuro pansindicalismo. É mais fácil explicar a adesão das pessoas da classe alta, mesmo as que no começo eram pouco favoráveis, das camadas médias e da pequena burguesia, à ideia de nação, à exaltação do conceito de ordem e à busca de uma política de potência.

FOLHA - Por que a estrutura dos "fasci" e do Partido Nacional Fascista cresceu tanto no Brasil?

TRENTO -
Os "fasci" [núcleos que representavam o Partido Nacional Fascista da Itália] no Brasil cresceram principalmente em número de sedes: em 1924 já eram 40, ou seja, um décimo de todos os "fasci" italianos no exterior, e dez anos depois quase chegavam a 90. No entanto, o número de inscritos [os membros em regra com o pagamento das mensalidades eram entre 5.000 e 6.000, no máximo] permaneceu irrisório com relação à quantidade de italianos residentes [558 mil no Censo de 1920 e 325 mil no de 1940]. A proliferação dos "fasci" estava relacionada com a sua dispersão territorial em uma área muito grande como é o território brasileiro. Já a Opera Nazionale Dopolavoro teve um bom sucesso, não tanto em termos de sede [19 em todo o Brasil no final dos anos 1930], mas de inscritos [7.000 apenas na cidade de São Paulo, em 1935]. Este último dado é importante, uma vez que esta estrutura ocupava um raio de ação muito amplo na organização das horas vagas das classes populares (cinema, teatro, excursões, festas dançantes e atividades esportivas). No que se refere ao aspecto financeiro, os imigrantes ricos não foram particularmente generosos com os "fasci", a fim de evitar acusações de que fomentavam paixões e conflitos políticos alheios à terra que lhes havia acolhido. Eles preferiam enviar doações significativas diretamente ao fascismo na Itália, seguindo o exemplo dos membros mais conhecidos na comunidade, como Francesco Matarazzo e Rodolfo Crespi.

FOLHA - Mussolini simpatizava com Vargas; mas tinha consciência de seu lado nacionalista?

TRENTO -
Sim, essa preocupação existia por parte das autoridades fascistas e as correspondências diplomáticas são uma prova disso. Mas o nacionalismo getulista nunca entrou em rota de colisão com as atividades fascistas no Brasil. Até na iminência da entrada do Brasil na guerra e depois disso, excetuando situações particulares como o Rio Grande do Sul, as normas adotadas para os cidadãos do Eixo foram aplicadas com menos energia para os italianos, em comparação aos alemães e japoneses.

FOLHA - O governo de Mussolini contribuiu financeiramente com a Ação Integralista Brasileira (AIB). O que havia por trás disso?

TRENTO -
A AIB foi financiada por Mussolini inclusive após ser dissolvida por Vargas, mas deve-se dizer que o fascismo nunca confiou muito no partido ou nos seus dirigentes.

FOLHA - Qual foi a marca deixada pelos fascistas italianos na sociedade e na vida pública brasileiras?

TRENTO -
As marcas mais fortes foram deixadas nos anos 1930, com a evocação ao corporativismo; a inclusão, ao pé da letra, da "Carta do Trabalho" fascista na Constituição brasileira da era Vargas; mas também no controle da imprensa, nas técnicas de criação do consenso, nos mecanismos de propaganda. Outros elementos, como por exemplo o partido como instrumento importante de canalização do consenso, não foram imitados.

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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BUENOS AIRES


A Itália vive uma renovação no estudo sobre o fascismo: segundo Eugenia Scarzanella, responsável pela compilação dos artigos de "Fascistas en América del Sur", até poucos anos atrás os historiadores italianos privilegiavam o estudo do antifascismo, provavelmente motivados a trabalhar com temas considerados "politicamente corretos".

Assim, negligenciaram aspectos relevantes do movimento fascista, como a disseminação da ideologia entre emigrados, afirma Scarzanella. A obra (edição argentina Fondo de Cultura Económica, 352 págs., 52 pesos, R$ 25) resulta de um projeto de pesquisa financiado pelo Ministério da Universidade e da Pesquisa Científica da Itália.

"Os ataques ao historiador Renzo De Felice (1929-96), cujos estudos revelaram o consenso dos italianos em relação ao regime fascista, contribuíram para essa situação", afirma. "O fascismo oferecia um instrumento de identidade e integração dos imigrantes na sociedade de acolhida."

Segundo a historiadora, "o regime fascista levou adiante uma política eficaz entre os italianos no exterior; para eles a Itália de Mussolini era um país que podia se apresentar como moderno e protagonista da política mundial."

O livro reúne textos que tratam do Brasil, da Argentina e do Peru e usa como fontes os documentos diplomáticos italianos, os arquivos dos países sul-americanos e as coleções das imprensas étnicas locais.

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Fabrício Augusto Souza Gomes
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Livro aborda o conflito no Recife no período da Segunda Guerra Mundial


Livro aborda o conflito no Recife
A guerra como metáfora, do historiador pernambucano Karl Schurster, será lançado dia 24 e resgata a memória do confronto na capital de Pernambuco Wagner Sarmento wsarmento@jc.com.br Uma guerra falada, temida, sentida. Na série de quatro reportagens encerrada ontem, o Jornal do Commercio mergulhou no Recife de 1939 a 1945 para mostrar histórias produzidas durante a Segunda Guerra Mundial na capital pernambucana, sede da Quarta Frota Americana. Passagens negligenciadas pelo tempo em uma cidade que, sem ter vivido nenhuma batalha por terra, vivenciou o conflito de forma intensa, seja pela presença de 28 mil militares americanos, seja pelo temor propalado pelas autoridades e pela imprensa. Sensações resgatadas pelo historiador pernambucano Karl Schurster no livro A guerra como metáfora: política propaganda e imprensa no Estado Novo, que será lançado no próximo dia 24. Schurster mergulhou em documentos e jornais da época para buscar um conceito próprio do que foi a guerra para o recifense. ?Por mais que a gente não tenha tido nenhum combate especificamente na cidade, houve sim uma espécie de guerra no Recife?, avalia. O conflito, para ele, foi ?metaforizado? sobretudo pelo governo de Agamenon Magalhães, interventor de Pernambuco na época, que fez a população sentir-se mais perto da guerra. ?A guerra, de fato, nunca chegou além do mar. Mas foi vivida no cotidiano da cidade. O Estado orientava o povo, em mensagens nos jornais e avisos nas ruas, a fazer exerícios, por exemplo, contra ataques aéreos, ensinando as pessoas a se proteger em abrigos antiaéreos. Mas o Recife nunca teve um abrigo sequer?, cita. A sociedade, diz ele, se preparou para a guerra, sendo obrigada a apagar as luzes mais cedo e racionar gasolina. ?A guerra foi muito mais metafórica?, observa. O livro, que será lançado no Instituto Pedro Gual, do Ministério das Relações Exteriores venezuelano, entra em rota de colisão com a historiografia dos anos 80, que subestima a participação brasileira na Segunda Guerra. ?Discordo plenamente dessa visão. Se não tivemos guerra dentro de nosso território, fizemos a batalha do Atlântico, além de participar da guerra no front italiano. Vivemos aspectos da guerra?, observa, referindo-se à proteção de comboios de navios mercantes e à patrulha oceânica feitas pela Quarta Frota e à tomada de Monte Castelo, na Itália, pela Força Expedicionária Brasileira (FEB). A Quarta Frota funcionou no Recife entre 1942 e 1945 com 159 navios americanos fixos, 28 temporários e 40 embarcações brasileiras. De acordo com a Marinha, 982 pessoas morreram em navios mercantes brasileiros. A FEB perdeu 451 homens na guerra. A guerra como metáfora terá lançamentos também em Cuba em 5 de outubro e, quatro dias depois, no Laboratório de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
Autor: Redação
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
Data: 03/09/2009

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Ciclo de Palestras UFF-UFRJ: Roma Aeterna


 

ROMA   AETERNA,
DECADÊNCIA OU NOVOS CAMINHOS?
LEITURAS INTERDISCIPLINARES


HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, LÍNGUA E LITERATURA LATINAS

CICLO DE PALESTRAS

de 08/09 a 05/11/2009 às terças e quintas

14 às 16h, sala 501, bloco C, campus Gragoatá,

Niterói, RJ

Confere certificado (34 horas) aos participantes

com frequência mínima de 75% das atividades.


14 às 16h, Sala 501-C, UFF, Gragoatá, Niterói, RJ



PALESTRA DE ABERTURA (08/09/2009)

As matrizes historiográficas sobre o Baixo Império: algumas reflexões

Profª Drª Norma Musco Mendes (UFRJ)

Exposição e análise das principais explicações sobre a desestabilização do Império Romano com o objetivo de refletir sobre os fatores que teriam provocado o "colapso" do sistema de domínio imperial romano.



2ª PALESTRA (10/09/2009)

"De Civitate Dei", a Cidade Antiga

na aurora da teologia política tardo-antiga e cristã: Santo Agostinho, Testemunha e Teólogo da "Queda de Roma" (421 d.C.)

Prof. Dr. Pe. Pedro Paulo Alves dos Santos (UNESA)



Obs.: a quem interessar, estarão a disposição na xerox textos sobre os temas das palestras.


Abraços,

Prof. Me. Manuel Rolph De V. Cabeceiras
Centro de Estudos Interdisciplinares da Antiguidade  (CEIA) /
Departamento de História - ICHF &
Pós-Graduação "Lato Sensu" de Cultura, Língua e Literatura Latina - IL da
Universidade Federal Fluminense

Lattes: http://lattes.cnpq.br/5282475495829462
Site: http://www.historia.uff.br/ceia
Blog: www.ceiauff.wordpress.com

CAIXA POSTAL 37070
CEP 22621-971
Rio de Janeiro - RJ

 
Anexo(s) de CEIA UFF

1 de 1 foto(s)

 
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Francisco Adolpho de Varnhagen e a Construção da História do Brasil


 

Domingo, 6 de Setembro de 2009

VIVENDO HISTÓRIA AMPLIANDO CONHECIMENTO

 
Francisco Adolpho de Varnhagen e a Construção da História do Brasil

 
Filho da portuguesa Maria Flávia de Sá Magalhães e de Ludwig Wilhelm Varnhagen, um engenheiro militar alemão contratado pela Coroa para construir os altos fornos da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, na região de Sorocaba, na então Capitania de São Paulo, estudou no Real Colégio Militar da Luz, em Lisboa, e iniciou a carreira militar à época das Guerras Liberais, como voluntário nas tropas de D. Pedro IV de Portugal que lutavam contra D. Miguel I de Portugal.
Escreveu Notícia do Brasil, seu primeiro trabalho de história, entre 1835 e 1838. Suas pesquisas na matéria levam-no a localizar o túmulo de Pedro Álvares Cabral na Igreja da Graça, em Santarém. Foi admitido como sócio-correspondente na Academia de Ciências de Lisboa. Formou-se como engenheiro militar em 1839, na Real Academia de Fortificação.
Retornou ao Brasil em 1840, entrando para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1841, exercendo o cargo de primeiro-secretário. Em 1844 obteve a nacionalidade brasileira, podendo ser admitido na carreira diplomática. Serviu na legação de Lisboa e na de Madrid, obtendo reconhecimento como historiador com a publicação da História Geral do Brasil em dois volumes (1854-1857). Foi destacado para o Paraguai (1858), tendo servido ainda na Venezuela, em Nova Granada (atual Colômbia), no Equador, no Chile, no Peru e nos Países Baixos.
Fonte: Wikipédia
 
Um Olhar Crítico sobre a História de Varnhagen
Varnhagen é o responsável pela construção da identidade do Brasil no século XIX. Sua obra História Geral do Brasil foi construída a luz do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro sobre o patrocínio do próprio imperador D. Pedro II. Desse modo, a obra de Varnhagen consiste em um manual que cujo objetivo era construir a imagem do Brasil sobre a óptica do colonizador português. Seus escritos mostram uma obra completamente voltada para os valores do homem branco que, segundo ele, era o responsável pelo processo de civilização do território brasileiro.
Varnhagen construiu, a partir de documentação oficial, a estruturação da História do Brasil a partir de 1500 até meados do século XIX. Nesta perspectiva, sua obra faz grande exaltação ao colonizador, com narrativas factuais e a transformação de simples personagens em grandes heróis. Sua História Geral do Brasil apresenta um conjunto de informações muito detalhadas onde, em vários momentos, se prolonga em minúcias e temáticas cuja importância não era tão relevante. Na sua visão lusitana da colonização são feitas "honrarias" ao português porque ele teria trazido a civilização para o Brasil, dando a um povo selvagem e bárbaro fé, lei e rei. Ou seja, tornando-os homens civilizados conforme os padrões europeus. Entretanto, sua História Geral do Brasil não valorizou a contribuição dos índios para a cultura brasileira – que eram apontados por ele apenas como selvagens ou bárbaros – e negou "totalmente" o papel do negro em nossa história. Em outras palavras, a história construída por Varnhagen era totalmente voltada para a exaltação do branco colonizador.
 
 
Por: Francisco Vilanova
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