Reportagem sobre aniversário de 50 anos de Brasília - Site UnB

quarta-feira, 21 de abril de 2010


Fonte: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=3201

UnB Agência
50 ANOS - Brasília - 20/04/2010

Estudo reconstrói histórias do teatro em Brasília

Historiadora faz um panorama das artes cênicas a partir de relatos de
teatrólogos que vivenciaram os palcos brasilienses nas décadas de 70 e 80
Thais Antonio - thaisabc@gmail.com - Da Secretaria de Comunicação da UnB


Abrem-se as cortinas. Começa o espetáculo. No palco, Dulcina de Moraes. O
enredo era a sua busca por um lugar para instalar a faculdade de artes que
levou seu nome. Após inúmeras tentativas, um funcionário do governo prometeu
que conseguiria o espaço e apresentou à artista um mapa da cidade. "Dulcina
fecha os olhos sobre o mapa e aponta o Conic como local para fazer a
faculdade", conta Elizângela Carrijo, mestre pelo departamento de História
da Universidade de Brasília que fez de sua dissertação um espetáculo
teatral.

A história de como Dulcina encontrou um lugar para instalar a faculdade de
artes é apenas uma entre inúmeras do teatro de Brasília contadas por
Elizângela na dissertação, narrada como se fosse um espetáculo teatral.
Durante dois anos, ela desbravou pilhas de documentos e conversou com
representantes do teatro da cidade, traçando um panorama das artes cênicas
na cidade durante as décadas de 70 e 80.

A historiadora entrevistou oito dos mais importantes teatrólogos de
Brasília. Geraldo Martuchelli, Hugo Rodas, Humberto Pedrancini, Iara
Pietricovsky, Jesus Vivas, João Antônio e José Maria B. de Paiva. Dulcina de
Moraes entra em cena a partir de uma biografia escrita por Sérgio Viotti,
ator falecido no ano passado. "Brasília está fazendo 50 anos. É uma jovem.
Quando Brasília tiver 500 anos, será que as pessoas vão saber quem é Hugo
Rodas, quem é Dulcina de Moraes?", indaga a pesquisadora. "É no ato de
contar histórias que a gente faz a memória ganhar novo significado".

*INTERPRETAÇÕES* - O diferencial do trabalho de Elizângela em relação aos
poucos existentes sobre o tema foi a maneira de contar. A pesquisadora não
relata uma história linear. Ela teceu as narrações dos teatrólogos em uma
trama aberta a interpretações. "Eu parto do princípio de que cada pessoa é
diferente e, portanto, cada uma delas é uma linha de um tecido", explica a
pesquisadora. "Juntas, elas formam o tecido da história, que é o que eu
chamo de trama na minha dissertação".

Elizângela adota uma corrente chamada História Cultural, que compreende os
fatos sob uma perspectiva narrativa, sem necessidade de rigidez em relação à
cronologia. O foco da pesquisadora não era a construção de uma linha do
tempo a partir das entrevistas, e sim a reunião de histórias que se
perderiam se não fossem registradas. "A história por mim concebida é sempre
inacabada e, portanto, aberta a outras interpretações", explica.

*MEMÓRIAS* – Hugo Rodas, ator, diretor de teatro e professor da UnB, lembra
a força que as artes cênicas tinham na década de 70. "Eu cheguei quando
havia apenas seis ou sete grupos em Brasília. O teatro estava explodindo",
lembra. "Eu me sentia um pioneiro", completa.

O diretor B. de Paiva guarda livros, documentos, jornais, fotos e todo
material que tenham relação com a história do teatro em Brasília. O acervo
que mantém em sua casa soma oito quilômetros de comprimento. B. de Paiva
conta que, quando criança, foi atropelado, quebrou a perna e perdeu todos os
dentes. "Então eu consegui um presente maravilhoso na minha vida que foi
substituir os meus dentes, que não existiam, pela musculatura labial. E a
minha voz se tornou perfeita, até que eu cheguei a ser o primeiro galã de
teatro banguela", lembra em entrevista à pesquisadora.

Nancy Alessio Magalhães, orientadora de Elizângela, acredita que a pesquisa
estimula novas formas de enxergar não só o teatro, mas a própria cidade.
"Nesse espaço de comemoração dos 50 anos da cidade, tão antiga e tão atual,
nessas memórias e nessas histórias de vida, Elizângela interpreta o
potencial de vitalidade que há nas interpretações que esses artistas
elaboram a partir de Brasília", diz.

A dissertação vai virar livro, que deve ser lançado ainda esse ano. "Convido
as pessoas, depois de terem lido esse espetáculo, a se debruçarem sobre
outras histórias, abrindo novas cortinas, subindo em novos palcos", diz
Elizângela. "A gente precisa contar histórias. A gente precisa dialogar com
as novas gerações. Sejam essas que estão aqui, sejam gerações que ainda
estão por vir".


Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a
fonte seja citada. Textos: *UnB Agência*. Fotos: *nome do fotógrafo/UnB
Agência*.

Formada em História pela UnB, Elizângela Carrijo deu aulas de História para
o ensino médio até entrar para o quadro de professores da universidade, em
2009. Atualmente é docente no curso de Museologia da UnB e pesquisadora do
Núcleo de Estudos de Memória, Cultura, Oralidade e Imagem do Centro de
Estudos Avançados Multidiscplinares (Ceam).
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