Revista textura

quinta-feira, 25 de setembro de 2008


CHAMADA DE ARTIGOS PARA PUBLICAÇÃO: REVISTA TEXTURA N. 18

TEMA: Fronteiras entre História e Literatura / Literatura e História

O prazo final para recebimento de artigos: 30 de outubro de 2008.

Normas editoriais

TEXTURA, revista semestral da Universidade Luterana do Brasil, destina-se a publicar

trabalhos de cunho acadêmico de pesquisadores nacionais e estrangeiros vinculados aos

cursos de Letras e História que se enquadrem nas normas da revista, sendo aceitos

trabalhos em língua portuguesa, inglesa e espanhola.

Os trabalhos enviados para publicação devem ser endereçados para:

Profª Dra. Jane Thompson Brodbeck (editora da TEXTURA na área de Letras) - j.tb@cpovo.net. e/ou

Profa. Dra. Márcia Janete Espig - marcia.espig@terra.com.br (editora na área de História)

1. APRESENTAÇÃO DOS ORIGINAIS

1.1 os trabalhos devem ser digitados em fonte Times New Roman, tamanho 12, com margens de 25mm e espaçamento de 1,5, utilizando o Word. 6.0 ou superior, as páginas devem ser numeradas a partir da folha de rosto, no canto superior direito;

1.2 os trabalhos deverão ter de 10 a 20 laudas;

1.3 os artigos devem seguir as normas da ABNT, utilizando-se as notas de rodapé apenas para observações referentes ao texto;

1.4 todos os artigos enviados deverão conter um resumo em língua portuguesa e em língua inglesa (abstract) de (6) seis a (10) dez linhas, introduzindo o artigo, juntamente com palavras chaves em português e em inglês (key words), obrigatoriamente, no número de três.

Recomenda-se que os abstract sejam revisados,evitando-se os translators da INTERNET;

1.5 a apresentação deverá conter: identificação, com título, subtítulo (se houver), nome(s) do(s) autor(es), maior titulação acadêmica, cargo atual, instituição que exerce suas funções, telefone, endereço para correspondência, além do endereço eletrônico;

1.6 Para trabalhos escritos em idioma estrangeiro serão aceitas normas como APA, MLA, etc.;

1.7 As citações com mais de 3 linhas devem ser feitas em fonte menor, sem itálicos e/ou aspas. O nome do autor deve aparecer em caixa alta, seguido do ano e página. Ex: (BLOOM, 2002, p.3);

1.8. Nas referências bibliográficas devem constar somente os autores efetivamente citados no texto de forma direta e/ou indireta.

2. PUBLICAÇÃO

2.1 Os trabalhos remetidos para publicação serão submetidos à apreciação do Conselho Editorial ou de outros consultores por este designados, de acordo com as especificidades do tema.

2.2 Os autores serão comunicados, através de correspondência, da aceitação ou recusa de seus artigos. A Comissão Editorial não se responsabiliza pela devolução dos originais remetidos;

2.3 Havendo necessidade de alteração quanto ao conteúdo do texto, será sugerido ao autor que as faça e devolva no prazo estabelecido. Solicita-se revisão minuciosa do artigo no que tange à adequação lingüística;

2.4 Os autores receberão um exemplar impresso da revista.

2.5 O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Impresso na Editora da ULBRA.
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Machado de Assis e Augusta Candiani


Musa de Machado de Assis, a atriz e cantora lírica Augusta Candiani causou furor na vida da Corte do Rio de Janeiro imperial. Mas um mistério permanece sobre o final da vida de Candiani, que chegou ao Rio em 1843, aos 23 anos, como prima dona da Companhia Italiana de Ópera.

Nascida em Milão, em 1820, Carlotta Augusta Candiani estreou na capital do Império brasileiro em 17 de janeiro de 1844, no principal palco da Corte, o Teatro São Pedro de Alcântara (localizado no então Largo do Rocio, hoje Praça Tiradentes, exatamente onde fica o João Caetano). No programa, a primeira montagem no Brasil da ópera "Norma", de Vicenzo Bellini.

A partir do sucesso estrondoso desta primeira apresentação, Candiani, que veio acompanhada do marido italiano, vai se identificar com a capital e o povo carioca de tal forma que nunca vai sair em definitivo da cidade, incentivando os músicos brasileiros a iniciarem o movimento da Ópera Nacional e rompendo barreiras entre o erudito e o popular ao cantar modinhas, gênero tipicamente brasileiro e mal visto pela elite da época.

Candiani não se tornou musa apenas de Machado de Assis, que a reverenciou em algumas passagens de sua obra, mas também de escritores como Joaquim Manoel de Macedo Martins Penna e do próprio D. Pedro II. O imperador, aliás, e sua esposa D. Teresa Cristina seriam padrinhos de sua filha, em 1844. Dois anos depois, ela se separou do marido e passou a viver com o compositor de modinhas José de Almeida Cabral. Nem é preciso dizer que foi um escândalo para a época. Com o divórcio, Candiani perdeu todos os bens e a guarda da filha.

Ela passa então a viajar por todo o Brasil pela Companhia Dramática Cabral, sempre misturando o erudito com o popular. Chega a morar no Rio Grande do Sul, onde atua no desenvolvimento do teatro e da ópera na província, e volta ao seu amado Rio de Janeiro em 1877. Continua a atuar até 1880, quando se retira para o bairro de Santa Cruz, na atual zona oeste carioca e na época zona rural da Corte. Morre aos 69 anos, em 28 de fevereiro de 1890, logo após o fim do Império.

Não se sabe até hoje em que casa Candiani teria morado em Santa Cruz. O que se sabe é que foi na atual rua Senador Camará. Alguns elegantes sobrados da época ainda existem no bairro e o boato é que D. Pedro II teria doado uma casa para ela em Santa Cruz. Após a morte do marido ela teria vivido com, ou próxima de, Bartholomeu Guimarães, um ator cômico português que também morreu em Santa Cruz um ano depois de Candiani. O grande desafio para os historiadores da vida da cantora é saber o que ela fez em Santa Cruz durante os dez últimos anos de vida e onde teria morado.

Mais informações no excelente blog *http://agrinalda.blogspot.com/*,
da pesquisadora Andréa Carvalho, que está concluindo um livro sobre
Candiani.

--
Paulo Clarindo
Grupo de Pesquisa do Subúrbio Carioca
A. C. Amigos do Patrimônio
amigosdopatrimonio@gmail.com
www.amigosdopatrimonio.blogspot.com
(21) 9765-6038 / 2224-6184 / 3769-4221
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Informativo da Revista de História


Notícias da Revista de História da Biblioteca Nacional - 2008

Com a palavra...
O brega desconstruído
Autor da biografia censurada sobre Roberto Carlos, Paulo César de Araújo comenta sua pesquisa sobre a produção de música brega durante o governo militar.

Okupar é resistir
Originário da contra-cultura dos anos 60, o movimento squatter ganhou o mundo com seus ideais de solidariedade e afronta aos valores do sistema capitalista.

-

Observatório
Cem latinos ilustres
Eleição escolhe os personagens mais influentes da cultura latino-americana

Três não é demais
Iphan anuncia ação integrada de tombamento de três patrimônios históricos no Piauí

Chaminés abandonadas
Pesquisadora indiana comenta sobre os processos de desindustrialização e o enfraquecimento da classe trabalhadora

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E ainda...
Identidade eslava
Curadora do Museu Nacional de Belas Artes comenta vida e obra de Andy Warhol

Arquivos na rede
Google anuncia plano de digitalização de jornais antigos

Visite: www.revistadehistoria.com.br
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III Encontro Nacional de Estudos Egitptológicos


Primeira Circular

III ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS EGIPTOLÓGICOS:

DOCUMENTO E MONUMENTO NO ANTIGO EGITO

O III Encontro Nacional de Estudos Egiptológicos: Documento e Monumento no Antigo Egito objetiva dar continuidade às propostas geradas em suas duas edições anteriores e promover o debate acadêmico sobre o poder, a religião, a economia e a sociedade dos três períodos históricos do Egito na Antigüidade: o faraônico, o helenístico e o romano, a partir de fontes textuais, epigráficas, papirológicas, iconográficas e arqueológicas. Tais documentos encontram-se presentes, em geral, nos monumentos do antigo Egito, testemunhos de uma sociedade ímpar não somente no contexto das civilizações da Antigüidade, bem como em permanências que ainda influenciam nossos dias.

DATA: de 10 a 12 de novembro.

LOCAL: Universidade Federal Fluminense - Bloco O, Auditório do ICHF - Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, sala 209.

DATA LIMITE PARA INSCRIÇÕES DE COMUNICAÇÕES COM ENVIO DE RESUMO: 10 de outubro de 2008.

LOCAL E HORÁRIOS PARA A REALIZAÇÃO DAS INSCRIÇÕES:

Sede do Centro de Estudos Interdisciplinares da Antiguidade, Sala 310, Bloco C Campus Gragoatá - Niterói - RJ.

DIA
HORÁRIO

Segunda
10:00 as 12:00

Terça
11:00 as 20:00

Quarta
10:00 as 12:00

Quinta
14:00 as 20:00




SITE: em breve melhores informações.

E-MAIL PARA CONTATO: geemaat@gmail.com

TELEFONE: 0XX21-26292603

VALORES DAS INSCRIÇÕES: Estudantes - R$ 10,00; Professores e demais participantes - R$ 15,00.

PÚBLICO ALVO: Professores dos ensinos superior, médio e fundamental. Estudantes universitários e do ensino médio. Demais interessados em Egiptologia.

PROMOÇÃO: Grupo de Estudos Egiptológicos Maat - Centro de Estudos Interdisciplinares da Antiguidade da Universidade Federal Fluminens
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Museu Internacional da Escravidão


Muito interessante!
No blog http://museusepatrimonio.blogspot.com tem, inclusive, link para acessar a página do museu, e outras coisinhas mais... Copiei e colei o artigo, para quem não quiser ir até o blog.

Museu Internacional da Escravidão

Museu mostra como europeus se aproveitaram da escravidão.

Inaugurado em Liverpool no ano passado, Museu Internacional da Escravidão expõe os
fundamentos econômicos que ajudam a entender a história. Acervo explica
como o tráfico de escravos foi central para a Revolução Industrial. Por
Maurício Hashizume.

Liverpool - Há uma expressão em Inglês que resume a "naturalidade" da dinâmica mercantil: business as usual, ou seja, um negócio comum, como outro qualquer. Pois é assim que o Museu Internacional da Escravidão retrata o comércio transatlântico de escravos, que vigorou dos séculos XVI ao XIX.
Inaugurado na famosa cidade dos Beatles em 23 de agosto de 2007 - por ocasião dos
200 anos do Ato pela Abolição do Comércio de Escravos -, o museu inglês expõe os fundamentos econômicos da escravidão. Cumpre, dessa maneira, os três principais objetivos a que se propõe: mostrar como milhões de africanos foram escravizados, evidenciar a participação crucial de Liverpool (e da Inglaterra como um todo) no processo, e enfatizar as conseqüências dessa exploração para as diferentes partes envolvidas.
Os conteúdos dos painéis que fazem parte do museu, localizado na revitalizada Albert Dock, servem de complemento ao (pouco) que se aprende sobre a escravidão nos bancos escolares do Brasil, uma ex-colônia de Portugal - nação que aliás sucumbiu justamente diante da ascensão inglesa.
São três seções montadas para os visitantes. A primeira busca mostrar um pouco da vida e da cultura da África Ocidental: com a reconstituição de parte de uma vila do povo Igbo e a exibição do artesanato, das manifestações culturais e dos conhecimentos
tradicionais desta região da África. Nesse segmento inicial, os organizadores do museu priorizam a valorização da diversidade cultural do continente africano, definido como "berço das civilizações", do qual "todos nós somos descendentes".
Os alicerces econômicos do comércio transatlântico de escravos aparecem na segunda parte do museu, chamada de "passagem do meio". Depois de recuperar (e condenar) o pensamento racista adotado como justificativa para as intervenções coloniais
("superiores" em comparação com os nativos "bárbaros") por parte dos "conquistadores" europeus (primeiro portugueses e espanhóis, depois principalmente ingleses, franceses e holandeses), as placas e objetos históricos do acervo compõem uma desconstrução reveladora das transações triangulares entre Europa, África e América.
Liverpool foi a capital do comércio transatlântico de escravos africanos (Foto:
Maurício Hashizume)Alma do negócio Nunca foi segredo que o comércio transatlântico de escravos atendia uma demanda por mão-de-obra, pois as nações européias estavam interessadas em aumentar a produção de gêneros como açúcar, café, algodão e tabaco em território colonial para abastecer o crescente consumo europeu. Não havia braços suficientes nas próprias colônias, já que muitos nativos foram dizimados, fugiram ou
ficaram doentes com as invasões dos "conquistadores".
A forma como essas operações de tráfico negreiro eram organizadas, no entanto, nunca
mereceu explicação mais detida nos estudos da história brasileira. Os visitantes saem do museu com a noção concreta de que a comercialização de escravos se assemelhava a um investimento de alto risco, mas com possibilidades de retornos exponenciais - típico da ciranda financeira.
Era custosa e complexa a preparação de uma embarcação para esse fim.
Mercadores convocavam parceiros (outros mercadores, banqueiros, políticos, fazendeiros e até pequenos "investidores") para formar um pool, uma espécie de consórcio para a repartição dos custos e riscos e, por conseguinte, para a viabilização do negócio. Registros dão conta de que a estruturação de apenas uma viagem em 1790 custou, por exemplo, £ 10 mil (libras esterlinas). Corrigido para valores atuais, esse "investimento" seria equivalente a £ 550 mil, ou melhor, cerca de R$ 1,8 milhão.
A participação de diversos interessados também facilitava outra providência essencial para o tráfico: a arrecadação de mercadorias necessárias para a "troca" por escravos africanos. Com mais pessoas envolvidas, ficava mais simples reunir produtos que interessavam aos "dominadores" da África que capturavam à força e
vendiam escravos. Encontrar gente disposta a fazer parte desse tipo de
empreitada não era tarefa muito complicada: segundo relato de um observador que vivia em Liverpool na época, praticamente todo homem da cidade era um mercador.
Além disso, existia uma estreita coincidência entre o poder político e a exploração do comércio de escravos. A própria Royal African Company inglesa, fundada em 1672 e
ativa até 1750, deteve o monopólio do comércio de ouro e de escravos com os africanos até 1698. O principal comandante e maior acionista da empresa era James, irmão do rei e Duque de York.

Capital do tráfico negreiro Mercadores de escravos como Thomas Golightly, que foi prefeito de Liverpool nos idos de 1720, reiteravam a conexão direta entre o pólo econômicos e a classe política. As docas da cidade foram inauguradas em 1715 e a Casa
da Alfândega (Custom House) foi construída em 1722. Algumas das construções daquela época, como a estação da Great Western Railway (veja foto acima) encravada na região portuária, continuam até hoje em pé.
No final do século XVIII, Liverpool se tranformara na capital do comércio transatlântico de escravos. O escritor William Mathews, testemunha dos acontecimentos, assinalou uma adesão em bloco do povo da cidade ao tráfico escravagista, que satisfazia o "desejo indiscriminado de participar de negociações comerciais e ganhar dinheiro em todas as oportunidades".
As estimativas dão conta de que pelo menos 1,5 milhão de africanos tenham sido transportados da África para a América por embarcações que partiram de Liverpool. Esse contingente consiste em mais de 10% do total de escravos vendidos de que se tem conhecimento.
Um conjunto de fatores explica a dianteira assumida por Liverpool nesse quesito em comparação com outras cidades inglesas como Londres e Bristol. Cidade portuária, Liverpool é também um ponto de convergência de rios e canais. Roupas, armas de fogo, munições e ferro chegavam com preços relativamente baixos no burburinho do comércio local. Em suma, os mercadores de Liverpool baixaram custos, eram mais rápidos e mais
flexíveis. Com o tempo, estreitaram relações com os vendedores de escravos do Oeste da África. Aproveitaram-se dessa proximidade para providenciar todos os produtos almejados por seus parceiros comerciais.

Base da Revolução Industrial
Ainda na seção intermediária da "passagem do meio", o Museu Internacional da Escravidão também dá nome aos bois quando trata dos beneficiados do tráfico negreiro. Algumas personalidades como Richard Watt, que fez fortuna explorando escravos na Jamaica e depois comprou uma mansão em Liverpool, são citadas nominalmente no acervo. Famílias milionárias tradicionais como os Gladstone também aparecem diretamente vinculadas à escravidão, assim como bancos importantes - Thomas Leyland, Heywoods (absorvido posteriormente pelo Barclays) e até o Banco da Inglaterra. O tráfico impulsionou ainda investimentos em outros setores, como na
mineração, ligação que fica evidente no caso do empresário Richard Pennant, que redirecionou os lucros advindos do comércio escravagista pra construir um império com base na extração da ardósia (utilizada para diversos outros fins). Defensor incondicional da escravidão, ele foi o primeiro Barão de Penrhyn.
Os dados coletados não deixam dúvidas, portanto, que a escravidão esteve na base da Revolução Industrial. Com os benefícios econômicos decorrentes da exploração do
modelo colonial, os ingleses puderam injetar recursos em setores estratégicos como a siderurgia, a extração de carvão mineral e a formação dos bancos. Concomitantemente, a mão-de-obra escrava propiciou o aumento de produção de gêneros como açúcar e algodão, atendendo à demanda do mercado interno europeu.
Essa conjunção de fatores contribuiu para o desenvolvimento da indústria têxtil e das bases da infra-estrutura produtiva (estradas, canais, etc.) na Inglaterra, nação
soberana absoluta no comércio de escravos durante o século XVIII. Era o jogo de "ganha-ganha", em que os ingleses lucravam com a venda de escravos, com o comércio dos produtos por eles cultivados e ainda investiam em indústrias próprias e na estrutura necessária para garantir ainda mais acúmulo de riqueza no futuro.
O tráfico negreiro se estendeu por quatro séculos. Pelo menos 12 milhões de pessoas foram escravizadas. Dois terços dessa estimativa eram formados por homens com
idade de 15 a 25 anos. Ou seja, as nações européias capturaram a mão-de-obra dos africanos em seu favor, fator que evidentemente se tornou um obstáculo para o desenvolvimento dos povos locais.
De quebra, armas de fogo e munições estavam entre os principais produtos que os europeus transportaram para os comerciantes da África em troca de escravos. A posse de armas de fogo era fundamental para a manutenção das atividades dos "mercadores" de escravos. Essa troca certamente ajudou a perpetuar os conflitos internos na África e está no pano de fundo da instabilidade política que marca o continente. Sem força de trabalho e "inundada" por um arsenal bélico, os povos africanos viram
as possibilidades de desenvolvimento tolhidas. Uma declaração pinçada do acervo faz uma pertinente dupla constatação: a África ajudou a desenvolver a Europa e a Europa ajudou a não desenvolver a África. Esse tipo de relação extremamente desigual pode ser estendido, com as devidas adaptações, às colônias da América e da Ásia.

Rotina dos escravos
Elementos de sobra no museu relembram as condições enfrentadas pelos escravos.
Desde a compilação de dados sobre três viagens realizadas pelos barcos Brooks, Bud e Rose - com a catalogação das respectivas durações dos trechos, da quantidade de alimentos consumidos e de quantos chegaram vivos às ilhas do Caribe - até a exibição de material audioviovisual replicando a viagem nos navios negreiros em telões. Em média, as viagens da África para o continente americano duravam cinco semanas.As
pessoas eram obrigadas a ficar em espaços apertados, sem ar, nos "porões" das embarcações. Água para beber e comida eram limitadas.
Os homens eram separados das mulheres e das crianças. Alguns eram forçados a dançar para entreter a tripulação. Era freqüente o abuso sexual de mulheres. Traumas abatiam muitos dos escravizados. Alguns ficavam sem comer e revoltas explodiam em pelo menos uma de cada dez viagens da África para a América. Todas eram reprimidas com ferocidade. De acordo com um levantamento do British Privy Council de 1789, uma média de 12,5% dos escravos morria antes de chegar ao destino.
A troca de "donos" era comum. Escravos eram forçados a caminhar por longos trechos
da costa africana até os locais de embarque para atravessar o Oceano Atlântico. Esqueletos empalados expostos nos fortes demonstravam o que aconteceria se alguém tentasse fugir. Mesmo com todas essas dificuldades, líderes resistiram. Como Tomba, líder do povo Baga no Guiné (1720), e Agaja Trudo, rei de Dahomey (1724-1726).
Uma das passagens mais trágicas do tráfico se deu com o navio Zong. A embarcação deixou a costa africana no dia 5 de março de 1781 com 440 escravos a bordo. Durante a viagem, 132 foram jogados ao mar e apenas 208 chegaram à ilha que hoje é a Jamaica. O grupo de "investidores" entrou na Corte Inglesa para cobrar £ 30 (libras esterlinas) por cada corpo jogado ao mar. A ação não resultou em ressarcimentos e o capitão Colingwood (acusado de assassinato) não foi condenado, mas a repercussão do caso foi péssima para os defensores do comércio de escravos.
Uma réplica de uma fazenda no sistema plantation foi montada no Museu Internacional da Escravidão. No modelo "Casa Grande e Senzala", os escravos enfrentavam vários tipos de violência. De todos os lados, vinham pressões para que os africanos se desvinculassem de suas identidades. Eram marcados com ferro quente e tratados como
animais. Mesmo com tudo isso, não faltaram casos de resistência. O caso de Zumbi dos Palmares, liderança popular que desafiou escravocratas no Nordeste brasileiro, está registrado em Liverpool.

Mudança de postura
A partir do século XIX e na esteira da Revolução Industrial, a posição da Inglaterra mudou. Em 1807, o tráfico negreiro se tornou ilegal no país.
Os ingleses passaram a pressionar pelo fim desse comércio, em resposta ao fortalecimento das mobilizações abolicionistas e especialmente de olho na conversão de escravos em potenciais consumidores de seus produtos industrializados. Liverpool passara de capital do comércio transatlântico de escravos para capital do algodão. Essa é a participação inglesa no tocante à história da escravidão mais frisada aos brasileiros. Em 1810, Portugal - que tinha transferido a Coroa para o Brasil em 1808 - e Inglaterra assinam o Tratado de Aliança e Amizade, no qual os ingleses já exigem restrições ao tráfico negreiro. Também por pressão da Inglaterra, Portugal concorda, durante o Congresso de Viena de 1815, em vetar o tráfico acima da Linha do Equador. Depois de desempenhar papel importante na independência do Brasil, os ingleses continuaram pressionando pela abolição. O Brasil acabou assinando um
tratado com mais restrições nesse sentido em 1826 e, em 1831, promulgou lei que proíbe o comércio de escravos com outras nações da África.
Em 1833, o Parlamento aprovou a abolição da escravatura também na parte das Antilhas pertencente à Inglaterra, no Canadá e no Cabo da Boa Esperança (sul da África do Sul). Em 1845, o Parlamento inglês aprovou o Bill Aberdeen, que determinou o aprisionamento de embarcações utilizadas no tráfico de escravos. Entre 1808 e 1869, a Esquadra do Oeste africano da Real Marinha Inglesa desbaratou cerca de 1,6 mil
navios negreiros e libertou cerca de 150 mil africanos. Mesmo assim, mais de um milhão de pessoas ainda foram escravizadas e transportadas durante o século XIX.
Entre os legados da escravidão (que estão na terceira e última seção do museu que já recebeu a visita de 302 mil pessoas), foram destacados nomes famosos de ruas de Liverpool que têm alguma relação com o comércio de escravos. A herança musical e a
presença de uma comunidade negra em Liverpool ganharam espaço reservado nessa parte. Personalidades negras foram resgatadas e a influência do tráfico negreiro para o racismo existente até hoje está exposta com destaque.
Um memorial, construído pelo Babalaô Yoruba Orlale Kan Babaloa , presta homenagem aos ancestrais negros. E uma escultura feita a partir de sucata e objetos reciclados por jovens de Porto Príncipe, no Haiti, simboliza o déficit de liberdade, que não acabou com o fim da escravidão antiga. "As pessoas hoje não têm mais correntes em seus braços e suas pernas, mas ainda têm correntes em suas mentes. Quando não se tem comida ou moradia, não se vive livremente", disse um dos autores da peça.
Logo na entrada do Museu Internacional da Escravidão, há uma declaração do ex-escravo William Prescott, captada em 1937. "Eles vão lembrar que nós éramos vendidos, mas não que éramos fortes. Eles vão lembrar que éramos comprados, mas não que éramos corajosos". Em seguida, os organizadores do museu prometem: "Nós
lembraremos. Essa história foi negligenciada por muita gente durante
muito tempo".

Fonte: [LIIB - Icomos/Brasil]
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UFF-CEO: Seminário Internacional Diálogos entre Direito e História: cidadania e justiça


Seminário Internacional Diálogos entre Direito e História: cidadania e justiça

28 a 30 de outubro de 2008

Faculdade de Direito/UFF

Maiores informações, acesse a página
http://www.ceo.historia.uff.br/c.php?c=agenda&id=20 ou pelo e-mail seminariodireitoehistoria@gmail.com
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