Historiador dá nova visão sobre os índios no Brasil

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Historiador dá nova visão sobre os índios no Brasil

Fonte: Portal Universidade 13/ Outubro 2010

A historiografia indígena vigente, baseada em documentos escritos pelo homem branco, tende a transmitir abordagem unilateral e incapaz de dar conta do papel exercido pelos índios na configuração social do Brasil Colônia. Uma contribuição para ampliar o horizonte de compreensão da questão está na obra Os indígenas e os processos de conquista dos sertões de Minas Gerais (1767-1813), escrita pelo historiador Adriano Toledo Paiva e recentemente lançada.

Graduado em História pela Universidade Federal de Viçosa, Adriano Toledo cursa doutorado na UFMG, com ênfase na pesquisa dos processos de conquista e governo dos sertões da Capitania de Minas Gerais na segunda metade do século 18. O livro é resultado de dissertação de mestrado e utiliza como estudo de caso a freguesia do Mártir São Manoel dos Sertões do Rio da Pomba e do Peixe dos Índios Cropós e Croatos, localizada em área de grande extensão territorial na atual Zona da Mata.

De acordo com Toledo Paiva, a ideia de que a cultura e as comunidades nativas dos territórios conquistados nas Minas do Ouro foram dizimadas disseminou-se e perdurou por muito tempo nos manuais didáticos e em uma produção historiográfica. No entanto, a população indígena na capitania era numerosa e os registros documentais por ele analisados revelam que os aborígenes se adaptaram às situações impostas pelo processo colonizatório, reestruturando suas concepções de espaço, liderança e poder.

Para o historiador, "a descoberta e a grande provocação do estudo é observar de que maneira os índios se inseriram no universo colonial, como eles incorporaram elementos colocados como mecanismos de conquista do homem branco e de que maneira acionaram esses instrumentos para alcançar seus próprios objetivos".

Adriano Toledo Paiva afirma que a colonização teve efeito devastador sobre as aldeias, transformando severamente alguns parâmetros da organização tradicional e eliminando lideranças e valores por meio de confrontos armados. Mas, a despeito disso, ele considera equivocada a ideia da conversão das aldeias em aldeamentos como processo que fez dos índios vítimas passivas de um projeto político.

O pesquisador mostra que os índios souberam explorar as vantagens oferecidas pelo Estado, e a partir de alianças com o poder colonial reconfiguraram suas aldeias. "Os conquistados encontraram novas formas de organização diante da suposta submissão ao poder colonial", afirma Paiva.

Narrativa

O fio da narrativa se desenvolve pela descrição de alguns personagens, escolhidos conforme a temática que o estudo se propõe a observar. Adriano Toledo conta, por exemplo, a trajetória do Padre Manuel de Jesus Maria, primeiro vigário da freguesia. Nascido de ventre escravo, ele se ofereceu para construir o aldeamento e para catequizar os seus índios, instaurando um novo organismo social extremamente mesclado  e complexo.

Em outra frente, o autor desconstrói a tese de alguns pesquisadores que usaram a história de Pedro da Motta, índio e padre, para tentar provar a incapacidade do indígena de viver no mundo do colonizador. "Desde a chegada das primeiras caravelas, os índios foram pensados como seres efêmeros e em transição. Não devemos abordar essas comunidades como cultura pura ou original e fadadas a contaminações que desagregam o ser índio. Precisamos compreender as reformulações identitárias e culturais vivenciadas pelos indígenas ao longo do tempo", conclui.

► Leia mais...

Lançamento: Revista Dimensões v. 24


Programa de Pós-Graduação em História e o Núcleo de Pesquisa e Informação Histórica da Ufes tem a honra de informar o lançamento do último número de Dimensões cujo dossiê, organizado pelo prof. Júlio Bentivoglio, se intitula Formas da História, Sentidos da Historiografia.  Os artigos podem ser acessados livremente por meio do endereço www.ufes.br/ppghis/dimensoes.  Solicitamos a todos que nos auxiliem na divulgação desta mensagem.

               Cordiais saudações,
               Prof. Gilvan Ventura - editor de Dimensões
 

Dimensões

VOL. 24, 2010

Apresentação

Júlio Bentivoglio

Dossiê: Formas da História, Sentidos da Historiografia

História: conhecimento, verdade, argumento

Estevão de Rezende Martins

A filosofia da História de R. G. Collingwood: duas contribuições

Cristiano Alencar Arrais

Hans-Georg Gadamer e a Teoria da História

Pedro Spinola Pereira Caldas

Teoria e metodologia na escrita da História do Brasil: Afonso de Taunay e a Academia Brasileira de Letras

Karina Anhezini

A História Conceitual de Reinhart Koselleck

Julio Bentivoglio

A aporia da História em dois momentos: na Antiguidade Clássica e no historicismo

Géssica Góes Guimarães Gaio

A biografia como escrita da História: possibilidades, limites e tensões

Alexandre de Sá Avelar

Teoria da História e Filosofia da História: uma análise das relações entre a epistemologia, a metodologia e o pensamento especulativo

Carlos Oiti Berbert Junior

Pensamento indomado: História, poder e resistência em Michel Foucault e Gilles Deleuze

Davis M. Alvim

Sobre a utilidade e desvantagem da ciência histórica, segundo Nietzsche e Gumbrecht

Marcelo de Mello Rangel

História Econômica, História em construção

Rogério Naques Faleiros

"O dever-ser é coisa do Diabo"? Sobre o problema da neutralidade axiológica em Max Weber

Sérgio da Mata

Razão e experiência na constituição do conhecimento histórico: reflexões sobre os aspectos indiciários do paradigma newtoniano

Sara Albieri

Artigos

"Eu canto o sertão que é meu": escrituras de sertão na poesia de Patativa do Assaré

Henrique Pereira Rocha

Iranilson Buriti

José Clerton de Oliveira Martins

Vilas operárias no Rio Grande do Sul: uma breve reflexão sobre o Bairro da Balsa em Pelotas, Bairro São Cristóvão em Passo Fundo e Galópolis em Caxias do Sul

Neuza Regina Janke

Resenha

História do Estado do Espírito Santo – Uma história maciça das elites

Paolo Spedicato

► Leia mais...