ENCONTRO COM A HISTÓRIA - MAST/RJ

domingo, 28 de junho de 2009


ENCONTRO COM A HISTÓRIA


O Museu de Astronomia e Ciências Afins organiza mensalmente um seminário com o objetivo de apresentar a um público variado os resultados de trabalhos realizados por pesquisadores de diferentes formaçoes.

O Encontro com a História acontece pelo menos uma vez por mês, sempre às quartas-feiras, às 14 horas e 30 minutos. As palestras acontecem no auditório do MAST e a entrada é gratuita.

Maiores informações: http://www.mast.br

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Trem da Costa Verde volta a operar este mês


O trem da Costa Verde, que faz o trajeto entre Angra dos Reis e Lídice
volta a operar interligando as duas cidades a partir do próximo dia
19. Inicialmente o projeto ficará a cargo das prefeituras de Angra dos
Reis e Rio Claro, mas a idéia é passar o controle das operações para a
iniciativa privada.

Segundo Sávio Neves, diretor do Trem do Corcovado existe o interesse
em assumir a coordenação do trem da Costa Verde que mantem o trajeto
original de 34 quilômetros e deverá inicialmente funcionar três dias
na semana, como mais uma atração turística da região.
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Um percurso histórico sobre o combate à hanseníase na Fortaleza do início do século XX é o tema do livro da historiadora Zilda Maria Menezes


Ensaio sobre a lepra
Um percurso histórico sobre o combate à hanseníase na Fortaleza do início do século XX é o tema do livro da historiadora Zilda Maria Menezes Lima

No filme “Ensaio sobre a cegueira”, de Fernando Meirelles, uma multidão de pessoas são levadas a abrigos onde ficam isoladas da população “normal”. Por conta do desconhecimento médico sobre as causas da enfermidade, a primeira ação dos governos é evitar que outros sejam contaminados. A cena fictícia, baseada na obra de José Saramago, bem que podia figurar somente nas telas de cinema, porém, na realidade, chegou a ser assistida pelos fortalezenses durante o século passado, após os primeiros registros da lepra, hoje conhecida como hanseníase.

Quem registra tudo é a professora Zilda Maria Menezes Lima, no livro “Uma enfermidade à flor da pele: a lepra em Fortaleza (1920-1937)”. A obra, que será lançada hoje no Museu do Ceará, é a primeira parte da tese de doutorado da historiadora, intitulada “O Grande Polvo de Mil Tentáculos: a lepra em Fortaleza (1920/1942)”, sobre o processo de combate à moléstia milenar, que ainda hoje afeta pessoas, independente de etnia, sexo ou segmento social.

“Minha inquietação era entender como a doença foi abordada historicamente, partindo da divulgação dos casos por periódicos, principalmente através do jornal O Nordeste”, explica. Segundo Zilda, um clima de terror pairava sobre a cidade, onde doentes circulavam em “promiscuidade com a população sadia”, nas palavras de membros da sociedade da época.

Atualmente, o Brasil adota a nomenclatura hanseníase, com a intenção de evitar preconceito e pânico entre a população. A enfermidade tem cura, por meio de tratamento em período relativamente curto, em torno de seis meses, se detectada em estágio inicial, ou em dois anos ou mais dependendo do grau de evolução da doença.

Pioneiro

Barão de Studart, no século XIX, registra os primeiros casos da enfermidade de que se tem notícia no Ceará, em artigo publicado na Revista da Academia Cearense de Letras, em 1897, onde afirma que a doença chegou ao Brasil através dos colonizadores, durante o século XVI. “No estudo, são apontadas as origens dessas pessoas. Foi o pontapé inicial, que acabou servindo como argumento do Barão quando disse que ninguém tinha lhe dado ouvidos no momento em que a doença começava a se alastrar”.

Já a partir de 1920, a Igreja Católica tem grande participação no apoio aos mais necessitados, de acordo com a pesquisadora, promovendo campanhas e alertando os jornais para a necessidade de informar a população. Após o alarde, é construído, em 1928, o primeiro leprosário no Ceará, que, em verdade, funcionava como asilo onde os doentes ficavam isolados do convívio social.

Localizado em Redenção, o prédio recebeu o nome de Antônio Diogo, médico que teve importante atuação na pesquisa para combater a enfermidade. “Ainda hoje, o centro funciona abrigando, agora, pessoas que exibem graves sequelas da hanseníase. Embora curados, ainda é grande o preconceito”, revela.

Nova fase

Em 1930, a saúde pública passa por uma nova fase e, com ela, começam a ser discutidas questões da saúde pública, incluindo a hanseníase. “Nesse momento, são construídos leprosários com mais estrutura para contabilizar o número de enfermos. Lá, também se fabricava o chamado óleo do chalmoogra, que já era utilizado na Índia para disfarçar as feridas na pele, embora não tivesse nenhum poder curativo”.

De acordo com a historiadora, o local acolhia pessoas de baixa renda. Os mais abastados eram mantidos em casa, em quartos isolados. Após o Golpe do Estado Novo, em 1937, esse quadro mudou. Através de uma política autoritária, todos eram isolados no centro. As famílias mais ricas, com o intuito de separar os parentes do restante dos doentes, construíam casas particulares dentro do prédio.

A partir de 1940, uma nova esperança surge para os enfermos dos grandes centros do País: as chamadas sulfonas. No Ceará, somente dez anos depois, é que o remédio passa a ser oferecido à população, distribuída pelo Ministro da Educação e Saúde, à época, Gustavo Capanema. “Minas Gerais e São Paulo eram os estados com o maior número de enfermos. No Ceará, o número era grande, mas não justificava tamanho alarde”. Segundo Zilda, as sequelas físicas, a característica contagiosa da doença e o desconhecimento das causas etiológicas somavam fatores para aumentar o preconceito e o medo das pessoas em contrair a enfermidade bíblica.

Apesar da importância da pesquisa, que de acordo com a historiadora, é pioneira no Estado em abordar a doença no campo da História, Zilda confessa que ainda é grande a desinformação e o preconceito com relação à hanseníase. “É dever dos meios de comunicação, e principalmente da televisão, informar a população sobre os tipos de tratamento, o qual hoje após duas ou três semanas faz com que a doença não seja mais contagiosa”.

Discursos

De acordo com Zilda, a enfermidade já foi alvo de diversas interpretações ao longo da história. Na Antiguidade, um sacerdote diagnosticava e dava instruções a respeito da doença. Na Idade Média, a Igreja Católica era responsável pelo trabalho. Somente a partir da Modernidade, o olhar médico domina a cena. “Antes disso, ter lepra significava ser atingido por Deus em virtude de pecado ou alguma falta grave cometida”, explica

A pesquisadora ainda antecipa a realização de um projeto do Museu do Ceará, com o qual se pretende fazer um trabalho de organização, restauração e catalogação de documentos antigos do leprosário Antônio Diogo, onde existem prontuários e fotografias da época. “Já iniciamos o processo. Ficarei responsável pela parte histórica. A intenção é transformar a antiga administração do prédio em um museu”, revela.

TRECHO

´A hanseníase continua sendo um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento (...) As explicações para a persistência de uma moléstia considerada erradicada do mundo civilizado são as mais variadas: deficiência de informações, baixa cobertura dos programas de tratamento, deficiência de capacitação de recursos humanos nas unidades de saúde, alto índice de abandono de tratamento, dificuldade de controle e supervisão dos programas em funcionamento, além da baixa prioridade em relação a outros problemas de saúde pública, considerados mais urgentes.

Por mais que pretenda-se afastar a hanseníase dos sentidos que lhe foram imputados historicamente, a incapacidade da ciência médica em promover a sua extinção e mais que isso, por não ter conseguido apagar em muitos casos as suas marcas físicas, mesmo promovendo a sua cura, deram a essa enfermidade um caráter estigmatizante que, mesmo em nossos dias, expõe seus portadores a preconceitos inaceitáveis.

Entende-se que o estigma que ainda hoje cerca essa doença está relacionado às suas características clínicas. As manifestações externas da hanseníase acabaram compondo um conjunto complexo de reações na sociedade e no doente pelas deformidades e incapacidades resultantes de sua evolução sem tratamento, pela evolução crônica e de longa duração, pelo prolongado período de incubação e início silencioso, pela alta endemicidade e associação com baixos padrões de vida e pela aparente incurabilidade´.

Uma enfermidade à flor da pele - A lepra em Fortaleza (1920-1937), páginas 176-177, 2009.

A AUTORA

Currículo Zilda Maria Menezes Lima é licenciada em História (Universidade Federal do Ceará), Especialista em Teorias e Metodologias da História (Universidade Estadual do Ceará), Mestre em História do Brasil (Universidade Federal de Pernambuco) e Doutora em História Social (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ministrou aulas no Ensino Médio em várias escolas da rede particular de Fortaleza e em 1994 iniciou suas atividades acadêmicas na FAFIDAM (campi da Universidade Estadual do Ceará em Limoeiro do Norte), onde além da atividade docente foi vice e coordenadora do curso de História. Atualmente é professora da Universidade Estadual do Ceará (campi de Fortaleza) na área de Teorias e Metodologias da História e História da Saúde e das Doenças no Brasil e no Ceará.

LIVRO

Zilda Maria Menezes Lima

R$ 10
243 PÁGINAS
2009
MUSEU DO CEARÁ

Uma enfermidade à flor da pele: a lepra em Fortaleza (1920-1937)

Mais informações:

Lançamento do livro ´Uma enfermidade à flor da pele - A lepra em Fortaleza (1920-1937)´.
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História dos subúrbios cariocas no programa Rio, Capital do Conhecimento.


*História dos subúrbios cariocas no programa Rio, Capital do
Conhecimento
*
A história dos subúrbios do Rio e sua contribuição para o
crescimento da cidade estão na pauta do programa *Rio, Capital do
Conhecimento*. A produção da MultiRio mostra a origem desses bairros, o
perfil de sua população, o surgimento das escolas de samba, do jongo e
outras tantas manifestações culturais. Vera Barroso recebe o pesquisador
Márcio Pinõn de Oliveira, doutor em Geografia HumaNa pela USP, e o
antropólogo Rolf Ribeiro de Souza. O programa vai ao ar na próxima segunda,
*dia 29, às 14h, ao vivo, na BandRio*.

*Confira a programação completa e outras ações em
**www.multirio.rj.gov.br*
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