Revista de História realiza debate sobre escravidão

segunda-feira, 8 de março de 2010


Revista de História realiza debate sobre escravidão 
 
Planeta Universitário - Seg, 08 de Março de 2010 17:41
 
O próximo encontro do projeto Biblioteca Fazendo História dará voz à escravidão. Aquela voz que poucos ouviram e que não foi falada nos livros didáticos. Escravidão nunca mais: fatos surpreendentes ontem e hoje é o tema do debate que a Revista de História da Biblioteca Nacional promove no dia 16 de março, às 16 horas, no Auditório Machado de Assis. O assunto é destaque, também, nos artigos de capa da 54º edição da RHBN, já nas bancas de todo o país.

O professor titular de História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Marcelo Badaró Mattos, vai falar sobre a relação entre escravidão, abolição e formação da classe trabalhadora no Rio de Janeiro, entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX. Já a professora do departamento de História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Keila Grinberg, vai trazer para o debate casos de escravos que conseguiram a liberdade no Brasil no século XIX e as consequências para o processo mais amplo de abolição da escravidão no Brasil.

No evento, com mediação do pesquisador da equipe da RHBN, Marcello Scarrone, serão distribuídos certificados de participação que poderão ser utilizados pelos alunos como horas de atividades complementares em suas universidades. Além disso, será sorteada uma assinatura da RHBN com a duração de um ano. Os debates realizados pela RHBN têm atraído estudantes de importantes instituições de ensino público e privado do Estado do Rio de Janeiro, bem como profissionais de áreas afins.

A série de debates tem, ainda, transmissão em tempo real, via Internet, no site www.institutoembratel.org.br, através do link TV PontoCom. A Fundação Biblioteca Nacional está localizada na Rua México s/nº, Centro, Rio de Janeiro (acesso pelo jardim).

A revista – Desde o seu lançamento em 2005, a Revista de História da Biblioteca Nacional oferece informação qualificada em artigos e matérias produzidos pelos mais importantes historiadores brasileiros. A publicação conta com a chancela e o rico acervo iconográfico da Biblioteca Nacional. Sua linguagem e apresentação agradável conquistaram um público abrangente independente de formação educacional ou área de atuação profissional.

Única em seu segmento editorial especializada em História do Brasil, a RHBN é distribuída mensalmente nas bancas de todo o país. O conteúdo integral de todas as edições da revista também pode ser acessado no endereço www.revistadehistoria.com.br.

Serviço
Projeto Biblioteca Fazendo História
Data: 16 de março - terça-feira
Horário: 16 horas
Local: Auditório Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional - Rua México s/nº, Centro, Rio de Janeiro
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Retratos de um outro Brasil


JC e-mail 3963, de 08 de Março de 2010.  
 
Retratos de um outro Brasil
 
Expedições científicas pioneiras aos sertões ajudaram a formar a identidade nacional

    Bem vestidos, cabelos aparados, portando aparelhos científicos esquisitos e acompanhados por animais mais estranhos ainda, os integrantes da Comissão Científica do Império - formada por pesquisadores do Museu Histórico Nacional e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - foram vistos quase como extraterrestres pelos moradores de Fortaleza.

    Eles compunham a primeira expedição científica exclusivamente brasileira, que agora começa a ser mais bem estudada. Há cerca de 150 anos aquele tipo de visitante não era comum no Ceará. Ainda mais trazendo dromedários e argelinos usando roupas do deserto.

    - Foi, de fato, um choque total - conta Lorelai Kury, historiadora e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz. - Eram homens imponentes, eruditos, carregando aparelhagem científica de última geração, tão sofisticada quanto pesada. E havia os dromedários, que faziam parte de uma tentativa de aclimatação, em voga na época.

    Os dromedários, vale ressaltar, não resistiram à vida no Ceará e ao solo duro da região. Mas a expedição, retratada agora no livro "Comissão Científica do Império" (Andrea Jakobsson Editora), foi mais uma entre tantas, que, movidas pelos mais diversos interesses, marcadas por tantos acertos quanto erros, ajudaram a formar a identidade nacional, apresentando o Brasil aos brasileiros.

    - As pioneiras expedições pelo Brasil, embora não levassem exatamente a bandeira da nacionalidade, tiveram um efeito indireto na discussão sobre ela - afirma José Pádua, professor de História da UFRJ. - Elas coletaram e traduziram informações sobre o território nacional, que foram posteriormente utilizadas por intelectuais e políticos brasileiros, além dos próprios cientistas.   

    D. Pedro II privilegiou ciência feita no país

    A expedição ao Ceará - que aconteceu entre 1859 e 1861 - era formada por especialistas em botânica, zoologia, etnografia e astronomia.

    Entre eles, estavam o engenheiro Guilherme Capanema, o poeta Antônio Gonçalves Dias, o pintor José dos Reis Carvalho, o renomado botânico Freire Alemão e o naturalista Manuel Ferreira Lagos, idealizador da missão. O objetivo principal da Comissão Científica do Império - realizada numa época de grandes inovações, como a navegação a vapor e a fotografia - era fazer ciência brasileira, sem interferência e liderança estrangeira, tão comum até então.

    - Havia ali um sentimento nacional, pioneiro, alimentado pelos ares do romantismo - conta Lorelai, que organizou o livro. - Todos criticavam os estrangeiros por ficarem pouco tempo no Brasil e se acharem especialistas no tema. A ideia, bancada por D. Pedro II, mecenas da expedição, era que só quem vive no lugar e passa tempo nele pode descrevê-lo melhor.

    Para isso, esforços não foram medidos: o Imperador liberou verbas para a compra de microscópios, lunetas e outros instrumentos necessários para as pesquisas de campo.

    Gonçalves Dias e o matemático Giacomo Raja Gabaglia compraram na Europa o que havia de mais moderno. Na bagagem, trouxeram também uma valiosa biblioteca científica, com cerca de dois mil exemplares. Parte dos problemas da expedição começou aí.

    - Era um material muito delicado e pesado, difícil de carregar, mesmo havendo criados para cada um dos pesquisadores - assinala a historiadora Magali Romero Sá, que assina um dos capítulos do livro. - Esse material era precariamente carregado em mulas e cavalos.

    Em Fortaleza, base da expedição, o grupo de cerca de 23 pessoas ficou por seis meses. Depois, seus integrantes se dividiram em grupos e partiram para o interior, ficando dois anos explorando o sertão cearense.

    - Nunca ficou claro por que o Ceará foi escolhido, mas, na época, buscava-se regiões pouco exploradas por outros viajantes. Além do mais, existiam boatos de que havia minas de ouro no interior do estado - diz Lorelai.

    Ouro, não havia. Mas a missão conseguiu reunir um vasto material, incluindo uma expressiva coleção zoológica, botânica e geológica, além de peças de artesanato e desenhos dos mais variados. Faltou, porém, unificar tamanho material - algo só feito agora, com o livro. Além disso, não foi feita nenhuma grande publicação com os resultados da expedição, levando muitos a considerarem um fracasso.

    - A expedição ficou conhecida por não ter alcançado tudo o que se esperava dela - diz a historiadora e pesquisadora Kaori Kodama. - Ela foi injustamente subestimada, já que não havia suporte para analisar e organizar o material recolhido. Mesmo assim, essa expansão para dentro fortaleceu a ideia de uma nação brasileira, ainda incipiente na época.

    Preguiçosos e inovadores

    Parte considerável dessa "expansão para dentro" é resumida pelo livro "Grandes expedições à Amazônia brasileira" (Metalivros), do escritor e pesquisador José Meirelles Filho. "Restrito" ao período entre 1500 e 1930, o livro analisa 42 viagens à região.

- O critério para a seleção foi incluir as expedições que mais contribuíram, entre erros e acertos, para nossa visão da Amazônia e do próprio Brasil - conta Meirelles.

Na obra estão desde as expedições catequizadoras do Padre Antônio Vieira (1653-1661) às viagens do sertanista Couto de Magalhães (1861-1871), além de incursões feitas por Euclides da Cunha (1905) e Mário de Andrade (1927).

- Euclides da Cunha e Mário de Andrade foram inovadores - diz o autor. - Euclides descreve o caboclo e relata o sofrimento do seringueiro. Já Mário é preguiçosíssimo, suas expedições são breves caminhadas enquanto os barcos abastecem, mas suas anotações são gloriosas. São retratos do Brasil se conhecendo melhor.

Falando em conhecer melhor e voltando à expedição ao Ceará, o livro "Comissão Científica do Império" descreve também um aspecto curioso dos expedicionários que vai além da mera observação sobre a zoologia, a botânica e os costumes da região.

    - Eram todos muito namoradores, menos Freire Alemão, que era mais velho. Todos os jornais da época relatam isso - afirma Lorelai. - Eram homens interessantes, bem vestidos, representando o Império. Dá para imaginar o alvoroço causado nas jovens locais. Há até relatos de pais enfurecidos querendo impor casamentos e irmãos tentando tomar satisfações.

(Carlos Albuquerque)

(O Globo, 6/3)

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