Fonte: UnB Agência Sáb, 12 de Junho de 2010 |
A imagem retratada pelos livros de história e obras artísticas brasileiras de centenas de escravos negros trabalhando nas lavouras de açúcar e café não traduz com fidelidade a realidade da escravidão no Brasil. Apenas 27 dos 25 mil proprietários de negros escravizados registrados oficialmente nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Piauí, no ano de 1873, tinham mais de 100 escravos. Mais da metade deles tinham até 4 escravos e pelo menos 10 mil eram proprietários de apenas um. A escravidão não foi exclusividade dos grandes latifundiários. Mais que isso. A grande maioria dos escravos identificados nos registros da época não estava nas grandes lavouras e sim nas casas de famílias comuns de brancos e também em pequenas propriedades rurais. Em Pernambuco, por exemplo, mais da metade dos senhores identificados em 3.993 inventários, durante quase um século de escravidão, tinham menos de 20 escravos. Os números constam de duas pesquisas apresentadas na Universidade de Brasília (UnB) no último dia 10 de junho, em seminário organizado pelo Núcleo de Estudos Comparados do Escravismo Brasileiro da universidade. Um delas, foi desenvolvida pela UnB e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A outra, pela Universidade de São Paulo (USP). Os estudos fazem parte de um projeto ainda maior, que durou cinco anos e envolve outras duas universidades, de Sergipe (UFS) e do Rio Grande do Sul (UFRGS). VENTRE LIVRE - Para chegar a conclusão de que apenas 27 senhores tinham mais de 100 escravos, demonstrando que se tratavam de grandes latifundiários, o professor Renato Marcondes, da USP, analisou as matrículas e classificações de escravos feitas pelo Império em cinco estados diferentes, abarcando 14 províncias. Para os 25 mil senhores haviam 100 mil negros. O ano escolhido para a coleta dos dados foi o de 1873, porque foi quando se deram os registros por exigência da Lei do Ventre Livre. "Os dados contrariam a imagem que tínhamos de que a posse de escravos predominava no grande latifúndio", afirmou o professor Renato Marcondes, da USP, pesquisador responsável pelo estudo. "Evidenciam uma outra realidade da escravidão, diferente do que se via nos modelos consagrados. A escravidão era muito mais integrada a realidade brasileira", completou. INVENTÁRIOS - A pesquisa conduzida pelos economistas Flávio Versiani, da UnB, e José Vergolino, da UFPE, confirmam que a maioria dos escravos trazidos ao Brasil não estavam nos grandes latifúndios, mas em pequenas propriedades. Os dois professores coordenaram o levantamento dos 3.933 inventários, registros pessoais de bens originários de cartórios de todo o estado de Pernambuco. A pesquisa abrange o período de 1800 a 1888. "Os dados não consideram, entretanto, pessoas que não tinham bens suficientes para fazer um inventário", pondera Flávio. Os dois estudos mostram, ainda, que os senhores de poucos escravos exerciam praticamente todas as atividades profissionais, entre eles lavradores, comerciantes e até artesãos. A apresentação dos estudos na UnB teve como objetivo colher impressões de outros especialistas no tema para aprimoramento. Alguns pesquisadores apontaram a necessidade de ajustes nos dados. Os resultados das pesquisas serão reunidas em uma publicação que será lançada em dois volumes. O projeto é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). UnB Agência |
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