CONDORCET

sábado, 20 de setembro de 2008


CONDORCET: a ideia de progresso e a existência de leis no âmago do processo histórico
Membro da Academia das Ciências, interveniente na Revolução Francesa, presidente da Assembleia Legislativa, para a qual foi eleito em 1791 e posteriormente membro de uma subcomissão de Salvação Pública, Condorcet (1743-1794) foi uma importante figura do seu tempo.
Após ter-se visto forçado a entrar na clandestinidade por discordar da Constituição de carácter jacobino aprovada pela Convenção, Condorcet inicia a sua obra Esboço para um Quadro Histórico do Progresso do Espírito Humano, onde faz referências claras relativamente à concepção que tem da evolução do processo histórico, assim como de leis a este inerente.
O excerto da obra referida que agora apresentamos pretende, pois, deixar salientada esta ideia, reforçando o que já dissemos em post anterior sobre a existência de leis em História, assim como a sua variedade, de acordo com os sistemas filosóficos ou teorias construídos:

"Se o homem pode predizer, com segurança quase completa, os fenómemos cujas leis conhece; se mesmo quando elas lhe são desconhecidas pode, segundo a experiência do passado, prever, com grande probabilidade, os acontecimentos do futuro; por que razão se havia de considerar como empresa quimérica a de traçar, com alguma verosimilhança, o quadro dos futuros destinos da espécie humana, segundo os resultados da sua história? O único fundamento da crença nas ciências naturais é a ideia de que as leis gerais, conhecidas ou ignoradas, que regem os fenómenos do universo, são necessárias e constantes; e por que razão este princípio havia de ser menos verdadeiro para o desenvolvimento das faculdades intelectuais e morais do homem do que para outras operações da natureza? Enfim, visto que as opiniões formadas de acordo com a experiência do passado, sobre os objectos da mesma ordem, são a única regra na conduta dos homens mais sábios, por que razão se havia de proibir o filósofo de apoiar as suas conjecturas sobre esta mesma base, desde que ele não lhe atribua uma certeza superior à que pode nascer do número, da constância e da exactidão das observações?"

Intrinsecamente ligada a esta ideia temos aquela que salienta que o processo histórico traduz o progresso da Humanidade, progresso este verificado ao nível das mais variadas vertentes e ao nível das diferentes dimensões do Homem. Imbuído de uma visão claramente europocentrista/ocidental, Condorcet apresenta da seguinte forma o seu pensamento a este respeito:

"As nossas esperanças quanto à condição futura da espécie humana podem reduzir-se a estes três pontos importantes: a destruição da desigualdade entre as nações, os progressos da igualdade num mesmo povo, e, finalmente, o aperfeiçoamento real do homem. Irão todas as nações aproximar-se um dia do estado de civilização a que chegaram os povos mais esclarecidos, mais livres, menos presos a preconceitos, tal como os franceses e os anglo-americanos? Irá desaparecer, pouco a pouco, a distância imensa que separa estes povos da servidão das nações submetidas aos reis, da barbárie das tribos africanas, da ignorância dos selvagens? Haverá sobre o globo regiões cuja natureza tenha condenado os habitantes a jamais gozarem de liberdade, a jamais exercerem a sua razão? (...)
Por último, deverá a espécie humana melhorar, quer por novas descobertas nas ciências e nas artes e, como consequência necessária, nos meios de bem-estar individual e de prosperidade comum; quer por progressos nos princípios de conduta e de moral prática; quer, enfim, pelo aperfeiçoamento real das faculdades intelectuais morais e físicas que pode ser igualmente o resultado, ou do aperfeiçoamento dos instrumentos que aumentam a intensidade e dirigem o emprego destas faculdades ou mesmo da organização natural do homem?
Respondendo (...) encontraremos, na experiência do passado, na observação dos progressos que as ciências e a civilização fizeram até aqui, na análise da marcha do espírito humano e do desenvolvimento das suas faculdades, os motivos mais fortes para acreditar que a natureza não pôs nenhum limite às nossas esperanças".

(Excertos retirados de: GARDINER, Patrick- Teorias da História. 4ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 69-70. Sublinhado nosso).


Para os colegas que estão me pedindo para falar sobre Condorcet.

Fonte: História e Ciência