VARNHAGEN E A HISTÓRIA DO BRASIL
Fonte: Brasiliana USP, Pedro Puntoni *
Francisco Adolpho de Varnhagen era filho de Ludwig Wilhelm, alemão, fundidor, e de dona Maria Flávia de Sá Magalhães, portuguesa. Nasceu em 17 de fevereiro de 1816, na casa destinada ao diretor da Real Fábrica de S. João de Ipanema. Esta fundição havia sido criada em 1811, pelo príncipe regente D. João VI, nas cercanias da vila de Sorocaba. Varnhagen foi logo cedo, aos oito anos, para Portugal, onde estudou no Colégio dos Nobres e no Colégio Militar da Luz. Seu interesse pela literatura e pela história fizeram-no se aproximar da Academia Real de Ciências de Lisboa. Em 1839, tornou-se sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Foi sua fidelidade à casa real manifesta durante esses anos quando, feito 2ª tenente, tomou parte nas lutas contra D. Miguel, às ordens do Duque de Bragança, imperador abdicatório do Brasil que o levou a aproximar-se do projeto de construção do Estado a da nação brasileira. Em 1840, viajou ao Brasil, tendo freqüentado reuniões da IHGB. No ano seguinte, por decreto Imperial, seria reconhecido súdito brasileiro. Desempenhou funções na diplomacia brasileira em Lisboa e em Madrid o que lhe permitiu aprofundar as pesquisas arquivísticas e tornar-se o maior conhecedor da documentação sobre a história nacional.
Fonte: Brasiliana USP, Pedro Puntoni *
Francisco Adolpho de Varnhagen era filho de Ludwig Wilhelm, alemão, fundidor, e de dona Maria Flávia de Sá Magalhães, portuguesa. Nasceu em 17 de fevereiro de 1816, na casa destinada ao diretor da Real Fábrica de S. João de Ipanema. Esta fundição havia sido criada em 1811, pelo príncipe regente D. João VI, nas cercanias da vila de Sorocaba. Varnhagen foi logo cedo, aos oito anos, para Portugal, onde estudou no Colégio dos Nobres e no Colégio Militar da Luz. Seu interesse pela literatura e pela história fizeram-no se aproximar da Academia Real de Ciências de Lisboa. Em 1839, tornou-se sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Foi sua fidelidade à casa real manifesta durante esses anos quando, feito 2ª tenente, tomou parte nas lutas contra D. Miguel, às ordens do Duque de Bragança, imperador abdicatório do Brasil que o levou a aproximar-se do projeto de construção do Estado a da nação brasileira. Em 1840, viajou ao Brasil, tendo freqüentado reuniões da IHGB. No ano seguinte, por decreto Imperial, seria reconhecido súdito brasileiro. Desempenhou funções na diplomacia brasileira em Lisboa e em Madrid o que lhe permitiu aprofundar as pesquisas arquivísticas e tornar-se o maior conhecedor da documentação sobre a história nacional.
Em Madrid, no ano de 1854, publicou o primeiro volume de sua História Geral do Brasil, na imprensa da Viúva de Rodriguez. Em 1857, quando deu à luz o segundo volume, não hesitou em acrescentar um "Discurso Preliminar". Este texto - que seria publicado também em Portugal, no mesmo ano, na revista O Panorama - era, na verdade, o desenvolvimento de outro, escrito em 1852, com o título "Como se deve entender a nacionalidade na História do Brasil?" e que havia sido lido em duas sessões da Academia de História de Madri. Tratava-se de uma "memória" que Varnhagen enviara ao Imperador em julho de 1852, que agora resolvia tornar pública, fazendo-a a introdução de sua obra para, assim, marcar sua posição anti-indianista e apresentar seus argumentos. No volume segundo de sua História, este discurso preliminar leva o título, sugestivo, de "Os índios perante a nacionalidade brasileira". Apesar de ter comungado com o ideal indianista nos seus primeiros textos, o historiador resolveu assumir uma posição mais reacionária e contraria ao estilo e à temática que dominavam as primeiras letras brasileiras. Pagou um caro preço por isso, uma vez que protegida pelo imperador, a tribo indianista não aceitou a critica que lhe impunha o sorocabano e o relegou a um certo ostracismo. Tanto assim, que por ocasião da segunda edição da História Geral do Brasil (Rio de Janeiro, Laemmert, 2 vols., 1877), Varnhagen amenizou o tom e retirou o "Discurso Preliminar".
Feito visconde de Porto Seguro apenas em 1874, o historiador viu sua nobilitação protelada por um Império, que tanto defendeu, mas que não pretendia assumir sua posição com relação aos indígenas. A publicação, na Brasiliana Digital, da primeira e da segunda edição desta obra maior da nossa História, permite que o leitor possa acompanhar estes debates e o clima conturbado de uma época na qual a formação da literatura e da historiografia cruzavam com os processos de formação da nação.
Ainda em vida, sonhou com uma terceira edição, que começou a preparar e deixou inacabada. Faleceu em Viena em 1878 e, entre os seus papéis (levados ao Chile por sua viúva, Carmen Ovalle) encontrava-se uma copia de trabalho da segunda edição fartamente anotada pelo autor. Tal exemplar, único e de grande valor, encontra-se na Biblioteca Mindlin.
A terceira edição viria mais tarde, como parte do grande esforço de Capistrano de Abreu e de Rodolfo Garcia. A primeira versão deste trabalho, foi perdida no incêndio da tipografia em 1907. Capistrano havia planejado uma obra em três volumes. Destes apenas o primeiro (já impresso) se salvou. Profundamente desanimado, desistiu da tarefa. Passou, contudo, "seu opulento acervo de notas e comentários" para Rodolfo Garcia que apenas em 1927, daria feito a publicação (em cinco volumes) da terceira edição integral da obra, pela Companhia Melhoramentos de São Paulo. Esta, a partir da sua quarta edição (que foi revista por Rodolfo Garcia em 1949) é, sem dúvida, a definitiva.
A obra de Varnhagen se destaca como a mais importante História do Brasil escrita no século XIX. Como lembrava Capistrano de Abreu, "é preciso descobrir suas qualidades por baixo dos seus defeitos". Sua sombra, contudo, ainda nos alcança. Muitos dos temas, assuntos, episódios revelados pelo historiador ainda marcam a historiografia brasileira e preenchem a memória nacional. Sua História Geral, repositório de valiosas informações, segue sendo leitura obrigatória para os interessados no período colonial.
* Petro Puntoni é professor da USP e diretor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.
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